
Ontem, nos habituais comentários do Professor Marcelo, a escritora Fernanda Serrano, com o título: "Também há dias felizes", tornou-se na estrela da noite, no montinho dos livros com que o ilustre professor e político brinda o pobre povo com sugestões de leitura mais ou menos edificantes.
Na salgalhada do costume, que nisto de televisões é como um hipermercado, vai de tudo a preço de saldo, os olhos do discernimento de sua eminência deixaram-se descair, numa meteorítica passagem, por um volume das Obras Completas dum tal Padre António Vieira, fulano mais ou menos conhecido por ser referido em discursos patrioteiros de aquém e além atlântico.
Nesta linha de enfado, aprouve ainda ao Professor dizer que a coisa ia ter muito volume pela frente; esperando eu, sinceramente, que lhe não cheguem à mão, pelo menos ao preço da chuva, não vá o homem lembrar-se de ler aquilo e arranjar matéria que diga alguma coisinha de realmente novo à gente Lusitana.
AH, esquecia-me, pois, de dar os parabéns à Fernanda, que, como é de supor, ainda não tive tempo para ler, nem tão pouco sei se alguma vez terei oportunidade. É que, na verdade, tenho andado a ler muita literatura de segunda, pelo menos assim parece no entender de muita gente que deveria ter mais algum cuidado com a forma tendenciosa e descaradamente de capelinha com que apresenta determinadas coisas e coisinhas.
Nota, esta crónica nada tem de pessoal contra a atriz e muito menos pretende de algum modo beliscar o conteúdo do livro pelos assuntos pessoais e delicados que envolve. No entanto, a partir do momento em que determinadas figuras públicas expõem as suas vidas privadas e pretendem que essas mesmas vidas se tornem em acontecimentos nacionais, serão inevitáveis os comentários daqueles que se sentem lesados pela forma como são espoliados do direito à informação clara, credível e honesta.