Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A barba de três dias

 
    Acreditem, eles e elas, é o que está dar. Se fosse um gajo bem parecido, mais novo, dois traços de lábia, rendia-me à barba de três dias. Pelo menos tinha emprego e percurso político garantidos.     
     Mesmo não contando com os votos deles, teria sempre uma almofada garantida nos votos delas. Pelas minhas investigações, descobri inclusive que  os homens voltaram claramente a render-se à barba. Não há necessidade de a deixar crescer durante meses a fio, criando aquela espécie de turfa farfalhuda, onde se acumulavam migalhas, perdigotos e outros pingatos de sítio ainda mais repugnante. Eu, se fosse mulher, perante uma coisa grotesca daquelas, também sentiria repulsa, para não dizer nojo.
      O que fazer então para apresentar uma barba de três dias? Ora bem, há que deixá-la crescer… durante 3 dias! Esta barba, ainda em fase de crescimento, mede 3 a 4 milímetros. No entanto, para um estilo subtilmente desmazelado, mas não menos estiloso, convém cuidar da mesma.  Ou seja, a barba de três dias é assim uma espécie de barba de puto, que nem tem mato para cortar em condições, mas ao mesmo tempo já não precisa de se levantar de madrugada para assobiar ao pelo meloso nem tão pouco de frequentar o galinheiro da vizinha às escondidas.
     Com esta barba, soube ainda que se realça, particularmente, os rostos angulares e afina os rostos redondos. Para a acertar como ditam as regras, é importante que se utilize um aparador, que permita várias regulações de comprimento, isto é, com pente ajustável. Ajuste o pente em função do comprimento que desejar obter, pois há para todos os gostos! Desde a barba mais curtinha à barba mais comprida.
     Para se conseguir uma barba de três dias apresentável, estilo ministeriável e comentador de TV, deixe-a crescer durante três dias e apare-a. Pegue no seu aparador e passe-o pela barba em sentido contrário ao crescimento do pelo. Assim, os seus pelos ficarão com um tamanho uniforme por toda a parte inferior do rosto. O ministro e o comentador são aqueles que rumam sempre contra a maré, e é fundamental que a barba de três dias transmita essa postura de pelo irreverente e eriçado. Um gajo de barba de três dias tem de dar a ideia que é um gajo teso, durão, caso contrário, como poderiam elas suspirar face a uma barba de três dias?
      Mas... pois, mas... se tiver umas coisitas mais para o mole, por exemplo uma pele sensível, a barba de três dias também é indicada. Ao não fazer a barba todos os dias, também se poupa o coiro, acabando por não o deixar tão irritado e, por conseguinte, com menos vermelhidões. Também aqui se podem recolher grandes proveitos, nomeadamente no campo das vermelhidões faciais, que das outras, Deus lhas perdoe, que não desejo o mal a ninguém.
    Tinha muito mais a dizer, por exemplo falar da importância de limpar regularmente o aparador para eliminar as bactérias que se possam acumular. O aparador, também ele, requer manutenção, mas desconfio que já ultrapassei o número limite de palavras e não sei se já atingi os dez erros ortográficos. 
     
     


domingo, 12 de maio de 2013

A badalhoca

       Desculpem-me o calão e forma despudorada como escolhi o tema, na véspera de 13 de maio, para falar da mulher e da mãe.
      Mas não podia deixar passar em falso o comentário que recentemente ouvi a um fulano que, ostensivamente, em plena via pública, atendia o telemóvel, de modo a que todos o ouvissem, os que tivessem, ou não, ouvidos de cínico, o que não é o meu caso.
        "Tá, ó minha badalhoca preferida!!!!" ...
        Na suposta pocilga em que o tipo vive, e ao que parecia insinuar, qual porco de cobrição, aquela seria a que chafurdava mais.
          E a gente fica-se a olhar para isto e pergunta se é só calão ou se é mais alguma coisa. Pensei em várias hipóteses e cá vão algumas delas.
         Em primeiro lugar será isto o resultado direto da dita emancipação feminina, em que a fada do lar, a dona de casa, finalmente, pelo desmazelo incondicional, dá lugar à badalhoca?
         Poder-se-á retirar daqui alguma leitura teológica, associada à pureza feminina, simbolizada na imagem de Maria. A religião, o dito ópio do povo, idolatrou determinados dogmas associados ao feminino para que, na realidade, pudesse colocar a mulher num plano secundário. A badalhoca, neste contexto de reação à pureza, assume um valor e importância que fazem deste cumprimento do mancebo um nobre elogio à mulher.
      Também coloquei a hipótese do tipo ser poeta e ter lido recentemente as poesias eróticas do Bocage. E que andasse a treinar motes de poesia de salão. Na falta de outros conhecimentos, sempre seria melhor do que nada.
      Em qualquer dos casos, a minha conclusão era sempre a mesma, mas será que o dito javardo teria mãe ou irmãs?
      A suposta "miss piggy" não se incomoda com o epíteto?
      Tenho uma certeza: os filhos de tais mães dirão sempre que serão as melhores mães do mundo, mas eu não trocaria.
 
        

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Fernanda Serrano, Também há dias felizes.

    Saúda-se a chegada de um livro da mais recente imperatriz da Língua Portuguesa, a atriz Fernanda Serrano.  Assim o entende o Professor Marcelo, ilustre comentador da vida nacional.
    Ontem, nos habituais comentários do Professor Marcelo, a escritora Fernanda Serrano, com o título: "Também há dias felizes", tornou-se na estrela da noite, no montinho dos livros com que o ilustre professor e político brinda o pobre povo com sugestões de leitura mais ou menos edificantes.
    Na salgalhada do costume, que nisto de televisões é como um hipermercado, vai de tudo a preço de saldo, os olhos do discernimento de sua eminência deixaram-se descair, numa meteorítica passagem, por um volume das Obras Completas dum tal Padre António Vieira, fulano mais ou menos conhecido por ser referido em discursos patrioteiros de aquém e além atlântico. 
    Nesta linha de enfado, aprouve ainda ao Professor dizer que a coisa ia ter muito volume pela frente; esperando eu, sinceramente, que lhe não cheguem à mão, pelo menos ao preço da chuva, não vá o homem lembrar-se de ler aquilo e arranjar matéria que diga alguma coisinha de realmente novo à gente Lusitana.  
     AH, esquecia-me, pois, de dar os parabéns à Fernanda, que, como é de supor, ainda não tive tempo para ler, nem tão pouco sei se alguma vez terei oportunidade. É que, na verdade, tenho andado a ler muita literatura de segunda, pelo menos assim parece no entender de muita gente que deveria ter mais algum cuidado com a forma tendenciosa e descaradamente de capelinha com que apresenta determinadas coisas e coisinhas.
    Nota, esta crónica nada tem de pessoal contra a atriz e muito menos pretende de algum modo beliscar o conteúdo do livro pelos assuntos pessoais e delicados que envolve. No entanto, a partir do momento em que determinadas figuras públicas expõem as suas vidas privadas e pretendem que essas mesmas vidas se tornem em acontecimentos nacionais, serão inevitáveis os comentários daqueles que se sentem lesados pela forma como são espoliados do direito à informação clara, credível e honesta.

domingo, 7 de abril de 2013

O Zé-Faz-Tudo

Acalmadas as poeiras da intolerância e das limitações fronteiriças mentais, sem poiso no Público e outros arautos dos sempre-os-mesmos, aqui no meu blogue, ao alcance de alguns, ao mesmo de ninguém, aqui fica para memória futura o que penso da figura tipicamente portuguesa do Zé-Faz-Tudo.


O Zé-Faz-Tudo, para quem o não conhece, é um fulano que, tendo dois dedinhos de habilidade, faz tudo. Manobra o martelo, desenrosca qualquer porca, troca fios e, imagine-se, chega mesmo a opinar sobre qualquer matéria que lhe ocorre, como sendo o mais conhecido e autorizado perito.

Diga-se, em abono da verdade, que há um Zé-Faz-Tudo em muitos de nós; eu mesmo, em arranjos domésticos, sofro dos mesmos pecadilhos do Zé-Faz-Tudo. Neste caso, o prejuízo sai-me da carteira, para não falar da vergonha de me tornar em técnico falhado, chicho esperto ou mesmo sapateiro a tocar rabecão.

Mas não se pense que o fenómeno do Zé-Faz-Tudo é coisa exclusiva de trolha, carpinteiro ou picheleiro, nada disso; o Zé-Faz-Tudo aparece-nos frequentemente em casa através da TV, da rádio e dos jornais. Encontra-se o Zé-Faz-Tudo em comentários, em debates e regularmente em diversas crónicas, nomeadamente dos semanários. Quem não está, neste momento, a ver um Zé-Faz-Tudo de estimação?

Recentemente adotei um, um daqueles que, por ter talento, ter um curso de direito, está em condições de opinar sobre tudo. No caso concreto, o dita eminência parda, dá-se ao luxo de argumentar balofamente sobre um problema que pertence ao campo específico da Linguística, mas duvida-se que sobre esta ciência tenha alguma vez lido tão pouco um opúsculo.

Apesar disso, a lábia sai-lhe, tanto pelo elogio excessivamente desmerecido, como pela crítica maledicente, a rondar uma atitude que, manda o respeito que merece enquanto autor, me prive de usar publicamente.

domingo, 10 de março de 2013

Nacionalidade portuguesa para os judeus sefarditas

     Ciclicamente, volta a falar-se deste projeto de lei. Dizem que finalmente vai ser levado à Assembleia da República. Pelo que vejo, por iniciativa de partidos ideologicamente ligados à direita, o que me leva a desconfiar da esquerda.
   E no meio deste ping-pong esquerda / direita, dá-me vontade de rir como, de forma tão descarada, se passa uma esponja por cima dum largo relambório de ataque descarado à Igreja, como única e simples depositária duma injustiça cometida há séculos contra este povo e que teve na Inquisição e no Tribunal do Santo Ofício o seu lado mais visível e repugnante.
     Aproveitem a boleia das pedofilias, das homossexualidades, das negociatas do Vaticano e metam também no rol esta dos judeus sefarditas espoliados. Afinal não somos nós todos um povo de espoliados?
   É que, se esta lei não passar, apetece dizer aos partidários das urnas de cristal que, se não papam velhinhos, ainda não chegaram à era do digital, continuando no tempo da cassete magnética. Efetivamente, o caso dos judeus sefarditas está muito para além das guerras entre israelitas e palestinianos, diz-nos diretamente respeito e é duma enorme hipocrisia continuar a destilar ódio contra antepassados que nos são comuns, desprezando ao mesmo tempo as vítimas de quem também nos corre sangue nas veias. 

sexta-feira, 1 de março de 2013

No reino da inveja e da maldicência

     A propósito do anúncio da publicação da obra integral do Padre António Vieira, ao que se disse, patrocinada através de um subsídio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, correu logo pelo ciberespaço e até chegou, imagine-se, ao Eixo do Mal, que tudo isto seria um esbanjar de recursos, pois o trabalho estaria feito aquando da Expo 98, naquele tempo do Eldorado, em que as montanhas pariram ratos, e alguns deles, ao que se vê, nem saíram do ninho, pois, até à data, ainda ninguém me respondeu, refiro-me aqueles que, rapidamente colocaram comentários a aludir a este facto na notícia do jornal "O Público" https://www.facebook.com/Publico/posts/534293093277204 e no qual respondi da seguinte maneira:
    "Diz-se aqui que a obra está pronta em CD ROM, digam então o que está lá e comecem, por exemplo, pela epistolografia. Estarão atualizadas as cartas censuradas na primeira edição, nomeadamente as do Duque de cadaval e D. Teodósio. Foram verificadas todas as cartas dirigidas a Duarte Ribeiro de Macedo pelos originais? Têm atualizadas as cartas ao Marquês de Nisa, algumas delas também censuradas? Têm traduzidas as cartas dirigidas aos superiores da Companhia em Latim? Têm reunidas as cartas dispersas que entretanto foram sendo publicadas por diferentes publicações? Descobriram alguma correspondência inédita, nomeadamente em Cadaval, Torre do Tombo e Archivio di Stato de Florença? Verificaram pelos manuscritos autógrafos a correspondência com o Marquês de Gouveia da Torre do Tombo? Verificaram toda a restante correspondência através dos manuscritos apócrifos, nomeadamente os da Biblioteca da Academia das Ciências? Etc Etc. É que este trabalho tem-me ocupado os tempos livres desde 2001. É que se alguém fez isto tudo para o tal CD foi trabalho desnecessário, mas não me consta, pois fui eu sempre a pagar os microfilmes de manuscritos que nunca ninguém tinha pedido. Se houve dinheiros para o tal CD e este trabalho, só na epistolografia, não foi feito, então foi uma burla, tenho em minha posse faturas pedidas em nome do "Projeto Vieira" e teria direito a exigir parte desses subsídios. Repito, quem levantou estas suspeitas, se tem provas para as perguntas que aqui coloco, responda, pois pode ser que ainda se possam aproveitar eventuais pesquisas, se não têm, calem-se com a má língua, para não dizer outra coisa. De tudo que disse, se houver dúvidas, é só dizer, que rapidamente disponibilizo aqui cópias de todo o material que tenho de Vieira em manuscritos, e posso dizer que tenho mais de 90% de toda a sua epistolografia. Com exceção dos sermões, que são 15 volumes, para a restante obra, (10 volumes) a situação de recolha das fontes está a processar-se de forma idêntica. De reimpressões estamos fartos por altura dos centenários, são rápidas, dão pouco trabalho e dão milhões, normalmente dirigidos aos do costume.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A alegoria do devedor

Esta alegoria foi retirada, à letra, do sermão XIII do Rosário, do Padre António Vieira

    "Talentos antigamente significavam certa soma de dinheiro, grande; hoje os talentos significam préstimos; e posto que se lhes mudou a significação, não se variou o significado. Quem tem muito dinheiro, por mais inepto que seja, tem talentos, e préstimo para tudo; quem o não tem, por mais talentos que tenha, não presta para nada.
      E que fez o pobre criado vendo-se tomado, e convencido em tanto excesso de dívidas, e não só impossibilitado de cabedal para as satisfazer, mas condenado já pelo Rei a ser vendido, e passar da largueza, e senhorio do estado em que tanto luzia com o alheio, à miserável servidão de escravo?
      Convencido, e condenado o devedor, lançou-se aos pés do Rei, e disse-lhe estas breves palavras: Patientiam habe in me, et omnia reddam tibi [Mt 18, 26]; tende, Senhor, paciência para comigo, e eu vos pagarei tudo o que devo. Isto é letra por letra o que soam as palavras, nas quais se oculta um mistério, que descoberto é altíssimo. Parece que este homem havia de pedir misericórdia ao Rei, e não paciência; pois porque não pede misericórdia, nem perdão do que devia, senão a paciência do Rei somente, e debaixo dessa paciência lhe promete pagar toda a dívida: Patientiam habe in me, et omnia reddam tibi? Torno a dizer que falou altissimamente. Porque o Rei era Deus, o qual é incapaz de paciência, porque não pode padecer; e uma vez que Deus chegasse a padecer, e ter paciência, logo o servo tinha cabedal para lhe pagar toda a dívida, e muito mais." Sermão XIII do Rosário. Nota para a alegoria: O Rei / Deus é a Alemanha.