Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Grácia Nasi, uma biografia ortodoxamente correcta

      Em ano de celebrações, este é mais um livro que pouco ou nada adianta à biografia de Gracia Nasi. Lamento dizê-lo, mas é mais uma oportunidade editorial para lembrar os quinhentos anos do nascimento da Senhora, em 1510.
      Como a própria autora refere, a "lendária Dona Grácia inflama periodicamente a imaginação ocidental, sem dúvida porque no fundo sabe-se muito pouco dela". Sem dúvida que Esther Mucznik tem razão, tanto mais quando atesta que não encontrou unanimidade nos historiadores que estudou. Todavia, é necessário algum atrevimento, sob pena de corrermos o risco de nada acrescentar a tudo quanto já sabemos. E o resultado ficou à vista, uma biografia resumídíssima de Grácia Nasi, politicamente, diria antes, religiosamente correcta. 
      Na verdade, com esta Grácia, nunca me teria sido possível escrever a "Corda de Judas Iscariotes" e nem a Ester poderia alguma vez tornar-se numa futura rainha de Israel. Grácia Nasi, cito Esther, foi em primeiro lugar uma grande mulher de negócios. Grácia, ainda segundo Esther Mucznik, não terá morrido na Terra Santa, sendo o mais provável Istambul. Acerca desta possibilidade não apresenta qualquer prova, nem as diversas leituras.
     A Grácia Nasi de Esther Mucznik, vinda a lume pela Esfera dos Livros, é essencilamente uma mulher da  ortodoxia judaica, vítima da cegueira inquisitorial de D. Manuel. Mantém-se, por isso mesmo, aberto o caminho para que a imaginação ocidental continue a ser inflamada pela vida desta mulher admirável. Pena é que, do lado oriental, não haja uma atitude semelhante para partir à decoberta de Gracia heterodoxa, da Gracia Nasi milenarista, da cabala. Até onde chegou a Senhora só o entenderemos na forma como morreu, se picada pela áspide, tornada uma nova Eva, se debaixo da protecção do Turco. Da minha parte, admiro particularmente a primeira, e mesmo que tal não tivesse acontecido, não deixaria de ser rigoroso apresentar outras hipóteses. 
      Sem pretender de forma alguma fazer deste um cavalo de batalha, fiquei triste com esta perspectiva tão redutora de Beatriz de Luna. Se o interesse foi também o de repassar mais uma vez a intolerância de D. Manuel, explorado e criticado vezes sem conta por autores cristãos e católicos, esperava-se também uma maior abertura por parte duma autora de origem judaica em relação aos fanatismos e fundamentalismos judaicos, se é que podemos falar de fanatismos atendento aos tempos e aos lugares.
    Termino com uma alínea desta biografia "Para o ano que vem ... em Tiberíades? Lanço daqui o desafio, para o ano uma biografia da Senhora a partir de Tiberíades.
      

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