Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



sábado, 31 de dezembro de 2011

Adiós 2011

      Era suposto que todos os anos que passam nos deixassem saudades, quanto mais não seja, pela simples razão de aumentarem os cabelos brancos, as rugas e, para quem se preocupa mais um bocadinho, os pés de galinha. Outros fenómenos físicos haveria ainda a citar, mas a intimidade das regiões afetadas leva ao recato linguístico.
      Com este ano de 2011, só o número enviesado já assinala qualquer coisa de anormal, não sucede o mesmo. Cá por mim, nem tão pouco me lembrei dos cabelos brancos, só de pensar que o outro tinha ido mostrar sabedura e canudos aos franceses; nem me lembrei das rugas, só das lágrimas que chorei pelo kadafi; já para não dizer os pés de galinha, que é coisa em que não reparo, na verdade, incomodam-me mais as olheiras do Sr. Gaspar quando, pensativo, de mansinho, me vai passando a mão, salvo seja, pelo bolso.
      Vai-te ano e não voltes tão cedo. Eu sei que até estou a ser injusto contigo, tirando aquela facada e mais umas tantas enxaquecas, bem que poderia ser pior. Mas que se ha de fazer? 
      Resta esperar por 2012, o número em si mesmo já agrada mais. Não é que vá muito pelos caminhos da cabalística, mas agrada-me sinceramente. Doze lembra-me muita coisa: dos doze meses do anos, os doze apóstolos, as doze tribos de Israel, as 12 horas do dia, as doze casas do Zodíaco, ou os doze deuses do Olimpo, os doze profetas menores do Antigo Testamento.
     E se olharmos o encontro do número 3 (divindade) com o número 4 (materialidade), tantas outras coisas poderemos descobrir em relação ao número 12. Por isso, faço votos para que, iluminados pela troika (os três já cá estão), encontremos os quatro que nos faltam. Sinceramente, da minha parte, desconheço quem sejam os quatro magníficos que farão com que o 31 de dezembro seja um dia que detesto solenemente.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Povo de emigrantes hoje como dantes

Em ano de Prémio Pessoa dado a Eduardo Lourenço, só resta mesmo aconselhar uma leitura atenta do Labirinto da Saudade, nomeadamente naquilo que a Camões diz respeito, diria melhor, naquilo que os portugueses conseguem ler tanto na obra como na personalidade do poeta da nação.
Esta pequena introdução ajudará a entender onde quero chegar. Acho uma piada formidável a estas homenagens, no caso merecida, mas que passam ao lado do pensamento dos homenageados. Nem interessa saber se eles realmente acreditaram ou ainda acreditam naquilo que escreveram; interessa, sim, saber que deduções provocaram nos seus leitores e é, neste ponto, que Eduardo Lourenço pode e deve ser considerado um dos nossos melhores pensadores.
Cá para mim, continua a ser estruturante a forma como olha um país bacoco completamente hipnotizado por uma figura e obra míticas que são Camões e "Os Lusíadas." Uma terra de ninguém, na medida em que parece não pertencer aos portugueses, mas de um grupo de senhores que, quando a coisa não vai cor-de-rosa, acenam com glória do passado e simpaticamente apelam ao põe-te a frosques.
Ora, repito, cá para mim, o herói d' "Os Lusíadas" não é Vasco da Gama. Basta conhecer um bocadinho das regras clássicas a respeito do herói épico para entender que este Gama é outra figura. O herói de "Os Lusíadas", na verdade, é O Velho Restelo. E ainda não vi, até à data, ninguém a defendê-lo.
Sem presunção, apesar dos meus 49 anos, aqui estou ao lado do homem que continua esquecido. É altura de, uma vez por todas, nos deixarmos destas ideias da glória de mandar e da vã cobiça de que é lá fora que vamos encontrar o nosso sucesso enquanto povo. Tretas... Não somos mesmo os melhores cientistas, nem os melhores empresários, nem os melhores padeiros da Venezuela. Seremos, quando muito, iguais aos outros povos.
Até à data, só conseguimos ser os primeiros na África pelo simples facto de que, em terra de cegos, quem tem um olho é rei.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Marimbar e o Soldado Milhões

Gostei, gostei mesmo do marimbar. A palavra foi realmente escolhida a dedo e é um excelente exemplo do marimbanço a que se presta a nossa Língua.
O que dá mesmo é a gente começar a marimbar-se. Eu, por exemplo, já comecei há muito a marimbar-me para isto tudo. Também não adiantava nada preocupar-me, ou de moca de Fafe em riste ou a marimbar. Como não fui à tropa e não sou violento, sigo alegremente o conselho do jovem, estou a marimbar-me.
Permita então, caro deputado, que me marimbe para o que diz e que me marimbe igualmente para espécie a que pertence até à quinta geração, assim nunca mais me pega o mal.
Permita ainda que lhe diga, bem haja, mas seria melhor que fosse tocar marimba, sempre marimbava doutra forma, batia com os dois pausinhos e com as bolinhas e fazia música, sempre seria mais útil. Que isto de lançar bombas atómicas na Alemanha é coisa que nem lembra ao diabo. A gente por cá só sabe mesmo é mandar foguetório, e mesmo esse já nem estoura como o dantes. Sabe, caro senhor, chamam-lhe fogo de jardim, que vem da China, e até uma jeijoada mais chispada ou um arroz de sarrabulho mais apurado leva de vantagem toda a pólvora seca que, supostamente, faria tremer as gâmbias dos banqueiros alemães.
Siga o meu conselho, quando se trata de marimbar e de estourar, ainda não há como a moda antiga, que vem dos tempos do soldado Milhões, que era meu conterrâneo e correu com eles todos, não precisamos de bombas atómicas para nada, só precisamos mesmo é de tropa macaca, de preferência com a barriga cheia de rancho.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Capitão Barros Basto

Volto segunda vez ao tema, associando-me à família e pedindo a divulgação deste caso, desejando que seja o ponto de partida para uma discussão séria do caso sefardita em Portugal.

O pedido formal para a reabilitação póstuma do militar no Exército Português deu entrada na Assembleia da República no final de Outubro, mas há vários anos que a família do Capitão luta nesse sentido.

Os descendentes de Barros Basto podem até ser indemnizados pelo Estado, num caso que conta com o total apoio de Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados.
O militar, popularizado como o 'Dreyfus Português', foi afastado das suas funções depois de 20 anos de serviço, por praticar actos próprios do judaísmo. Na altura, o capitão foi levado a julgamento perante o Conselho Superior de Disciplina do Exército, tendo ficado provado que o oficial cumpria vários preceitos judeus.

Barros Basto realizava operações de circuncisão a vários alunos do Instituto Teológico Israelita do Porto e saudava-os com um beijo no rosto, tal como os judeus sefarditas de Marrocos, onde se converteu à religião.Reunidas todas as provas, o Conselho declarou que Barros Basto não tinha "capacidade moral para o exercício das suas funções", suspendendo o capitão do serviço.

Mais de 70 anos depois, a família do Capitão quer que seja feita justiça.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Fazer Dívidas Eternamente

O que eu estudei sobre pagar dívidas
Na verdade nunca estudei nada. Aprendi o que o meu pai me ensinou, juntei-lhe o bom senso, temperado com a vergonha na cara.
E cheguei a esta conclusão digna de conferência entre os alunos mais doutos em ciência política: Quem não paga... é caloteiro. Quem não paga e deixa as dívidas para os seus descendentes é caloteiro ao quadrado. Ou seja, quem deixa dívidas ad eternum é caloteiro à quinta potência.
Na verdade, depois de muito pensar e meditar sobre a coisa, que mais não é do que pedir eternamente dinheiro sem saber como pagar, só mesmo na imaginação duma criança é que tal seria possível. A não ser que, vamos lá ser mais claros do que as brancas que cobrem cabeças com idade para ter algum juízo, o dinheiro seja roubado; ou, por milagre sei lá donde, caia da árvore das patacas.
Ora, pataqueiros há muitos, pode ser o morto que deixou uma herança; pode ser duma viúva rica a quem se deu o golpe do baú; pode ser dum trabalhinho e duma cunha por baixo da mesa, enfim, mil e uma formas de arranjar dinheiro que, não sendo propriamente roubado, cheira a mofo, para não dizer a coisa mais feia.
Vem tudo isto a propósito duma célebre frase de Salazar, ouvi dizer que era de Salazar, não tenho provas, mas pelo toque deve ser verdade. Dizia o tal economista, que ao que se sabe até dava aulas de economia, que os países são como os homens. São invejosos, são interesseiros, vigaristas e até ladrões. Um que eu conheço muito bem até foi assassino do mais reles que algum dia a Humanidade teve a infelicidade de ver. 
Quem me dera que Salazar tivesse razão, mas quem me dera, olha agora eu a individar-me eternamente com a preocupação de criança em pagar essas mesmas dívidas.
Ele há cada cabeçorra pensante!!!!!!!!!!!!!!!!!  

sábado, 3 de dezembro de 2011

Giovanni Bottero

    Giovanni Bottero (1543-1617), clérigo italiano versado também em questões políticas e de economia, deixou um livro muito interessante chamado Relationi Universali.
    Vem isto a propósito dos ataques de patriotismo que se têm observado ultimamente entre os nossos políticos, diz-se que dumas aventuras épicas de uns nossos antepassados, de quem, supostamente, nos achamos herdeiros.
    Ensinaram-nos tanta coisinha e, graças a Deus, tão exagerada ou então tão diminuta, que foi preciso chegar ao séc. XXI, e através deste mundo virtual, termos acesso a tudo o que, então, os outros europeus sabiam de nós e daquilo que tínhamos feito ou andávamos a fazer.
    E já não dá mais para encobrir, a não ser que se queira ficar no orgulhosamente sós.  Basta ir a "archive.com" e está lá tudo, perdão, quase tudo, mas não faltará muito tudo mesmo. E adeus a bibliotecas, com funcionários antipáticos que transportam nas mãos relíquias por especial favor.
     Curioso, diz Brotero que os índios do Chile só sabiam contar até cinco; Vieira acha isso uma grande vantagem, os nossos índios, supostamente os do Brasil, sabiam contar até três. Ainda por cima, por especial milagre, teriam o caminho aberto para o entendimento do nome da Santíssima Trindade, que ao dogma nem Santo Agostinho lá chegou. A mim, parece-me que já nem até um conseguimos contar, tudo que se passa à volta é negativo.
     Representará a Net o fim do INDEX, julgo que sim. Já agora, cuidado, há um outro Index, a maioria destas obras está em Latim e uma parte considerável destes textos está por traduzir.


domingo, 27 de novembro de 2011

Fado, Património da Humanidade.

       Gostei, é claro que gostei. Mesmo que já não vá a maratonas de fado vadio no saudoso "Fontainhas", é lógico que batem cá no fundo as boas recordações do fado do Zé do Pistolé e da Maria Racha Azeitona, sem esquecer, é claro, o prego no pão acompanhado da redondinha de Gatão, cuja acidez me deixou incómodos, ou vai deixar, para o resto da vida, neste laboratório a que, normalmente, chamamos figadeira.
      Para não falar das lágrimas às 4 da madrugada, a ouvir o "Xaile de Minha Mãe", ou alguma boca mais despudorada a algum novato, onde também eu me poderia incluir, quando, inflamados pelo refrão, gritávamos desafinadamente: "Ai! Ai! Ai! Tudo isto realmente existiu e felizmente existe; tudo isto é triste, pois o tempo, efetivamente, em nada mudou; tudo isto é fado.
      O reconhecimento, a verdade seja dita, é merecido. Com Amália e a Casa da Mariquinhas escutada por esse mundo fora; ou mesmo com o "Avril au Portugal", mais salazarento que outra coisa, retocado depois pelo caliente do Julito. Passando com a nova gente que tem vindo a fazer um trabalho realmente digno de se lhe tirar o chapéu, o fado está aí, mais forte do que nunca. Reforçado pela tristeza dum país que definha de dia para dia, vendo sair a sua juventude; vazio no interior mas sempre repleto no litoral. Mais do que nunca, lisboetas e emigrantes, sempre iguais a nós mesmos. Talvez seja esse o segredo do fado e dos tempos auspiciosos que se lhe afiguram.  
     Proponho desde já uma nova ideia para a UNESCO: Património Doméstico da Humanidade, a mala de cartão, transfigurada, desta vez, na mala de cabine "by Ryanair".

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O país dos papagaios

       Era uma vez um país governado por papagaios.
       O povo, quando queria escolher um político para governar, escolhia um papagaio; o papagaio, quando queria formar um governo, escolhia outros papagaios, e assim sucessivamente.
      Todos estes papagaios, para além de serem aves dadas a imitações, imitavam muito bem, ou melhor, falavam muito bem e encantavam o povo.
      Por isso é que, todos aqueles que queriam treinar na profissão de papagaio, procuravam os lugares apropriados para a respectiva exibição pública.
     Uns comentavam na TV, outros desfilavam nas conferências, colóquios e nos congressos; outros ainda, participavam regularmente nos debates para os prós e para os contras. E a gente ficava babada, convencida de que os papagaios eram muito competentes. 
      Muito sinceramente, não sei o que é feito do país dos papagaios. Se ainda existe, se está a sofrer de Psitacose, também conhecida como ornitose ou febre dos papagaios. A mim, muito sinceramente, nunca me encantou semelhante criatura, mesmo não sendo propriamente um dos que morre de amores pelo "louro", claro está, com o devido respeito ao género no feminino. 
     Mas que ainda vejo por aí a esvoaçar muitos, ai isso vejo. Oh! como eles treinavam e encantavam, e agora nem alpista merecem. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O Emplastro

        Encontrei o Emplastro hoje, na TV, em hora de ponta a propósito das novidades do Dr. Duarte Lima, aquele senhor que aparece sempre na TV a ler livros de que desconhecemos o título e a tocar órgão de muitos tubos sem que, algumas vez, se ouvisse a música.
        A esta hora, já todos deram conta de que eu não queria falar do Emplastro, o que eu queria era mesmo falar do Duarte Lima.
         Mas como não sei o que deva dizer sobre o caso, Deus me livre de falsos testemunhos, prefiro interrogar-me a respeito daquela figura patusca que fica a olhar as câmaras, e digo cá para os meus botões, como é que o homem vai para Lisboa? Quem lhe paga a viagem? Quem lhe dá de comer e quem é que lhe dá de dormir.
         Às tantas por quantas, não tinha tão pouco ouvido o que a simpática jornalista ia dizendo, tão preocupado que estava em observar o sinal do emplastro e a ver se abria a boca, pensava cá com os meu botões se ainda tinha a dentadura que o Pinto da Costa lhe tinha oferecido.
       Mas, por falar nisso, onde é que eu ia, ah! Já sei! No Dr. Duarte Lima.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O rio Douro

       





        Continua a saga do poema sobre o rio Douro, pelo menos a falta de cuidado na forma como as coisas são citadas, vai alegrando estes dias cinzentos.
      Desta vez o poema aparece num site de casamentos, sim, casamentos. Imagine-se http://onossocasamento.pt/sites/onossocasamento.pt/files/1_4.doc.
       Em turismo de habitação, em anúncio da Câmara de Gaia por conta da mãe Joana, ainda vá que não vá, afinal o rio passa ali mesmo ao pé. Agora casamentos, mas que raio tem a ver o poema com casório, a não ser que tenha sido ideia de alguma Quinta de bodas ali para os lados de Melres.
     Que o texto tem coisinha bairrista, acho que sim; agora que possa inspirar pombinhos para noite de núpcias, juro que nem tal coisa me passou pelos neurónios.
       Perdão, me passou, não, passou ao meu heterónimo, por sinal Mário Cesariny. Nada de confusões, não o outro, que teria talento para muito mais, pelo menos, nas capelinhas do costume não lhe faltaram admiradores.
       Da minha parte, no entanto, fica aqui solene juramento, nunca escolheria tal pseudónimo, por muitos e variados motivos.
       Salva-se uma coisa, o estilo de prosa prosoema até nem fica mal de todo, o raminho é que é de muito mau gosto, poderia ao menos tirar-se uma parrinha ao natural duma talha dourada, há tantas no Porto.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Quem são afinal os portugueses?

       A visita de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, aos EUA, provavelmente com a ajuda de alguns cêntimos do meu subsídio de Natal e de férias, destinado a promover a imagem de Portugal, permitam, eu dispenso. Preferia esses cêntimos de volta ao meu bolso.
     Caramba, para não dizer outra coisa, é tempo da solidariedade lusa custar a todos. Se os senhores que vivem nas américas têm BI nacional, que tal um imposto para ajudar ao calote??? A começar, poderiam fazer uma vaquinha e pagar a deslocação de Sua Excelência.
      Se há língua, se há Camões, Vascos da Gama, ranchos floclóricos, vira minhoto, pastéis de Belém, bacalhau e Benficas, então que haja também vergonha na cara pela imagem dum país de mão estendida à Europa por andar de calças na mão.
     Eu sei que me dirão que já pagam os impostos nos países onde trabalham, que são esses países que lhes pagam a saúde e a educação e fazem as estradas por onde rolam os cadilac's. Eu sei isso muito bem. Contudo, fica no ar a pergunta, o que é uma nação: as gentes? o território?
     Se Portugal é efetivamente este retângulo europeu, habitado sensivelmente por pouco mais de 10 milhões de almas cheias de dívidas. Só me resta dizer: "Perdoai-nos, Senhor, as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores".  

domingo, 6 de novembro de 2011

O Sermão da Montanha

 O Sermão da montanha **(versão para educadores)

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem.
Ele preparava-os para serem os educadores capazes de transmitir a Boa Nova a todos os homens.
Tomando a palavra, disse-lhes:
- Em verdade, em verdade vos digo:
- Felizes os pobres, porque deles é o reino dos céus.
- Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
- Felizes os misericordiosos, porque eles...?
Pedro interrompeu-o:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?
André perguntou:
- É pra copiar?
Filipe lamentou-se:
- Esqueci o meu papiro!
Bartolomeu quis saber:
- Vai sair no teste?
João levantou a mão:
- Posso ir à casa de banho?
Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?
Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!
Tomé questionou:
- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?
Tiago Maior indagou:
- Vai contar pra nota?
Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandalhão à minha frente!
Simão Zelote gritou, nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?
Mateus queixou-se:
- Eu não percebi nada, ninguém percebeu nada!
Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula?
- Onde está a sua planificação e a avaliação diagnóstica?
- Quais são os objetivos gerais e específicos?
- Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?
Caifás emendou:
- Fez uma planificação que inclua os temas transversais e as atividades integradoras com outras disciplinas?
- E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais?
- Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?
Pilatos, sentado lá no fundo, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e
reservo-me o direito de, no final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade.
- Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.
- E veja lá se não vai reprovar alguém!
E foi nesse momento que Jesus disse: "Senhor, por que me abandonastes..."

Este é um dos muitos textos que circulam nos e-mails, de que se deconhece, a maioria das vezes, o autor. Parabéns ao ilustre anónimo e permita a cópia.

sábado, 5 de novembro de 2011

Os impostos da China no Séc. XVII

      
               Botterus scribit, in Sinis numerari 70. Milliones hominum, quae mullitudo non est in tota Europa. Nam Italia, ut idem tradit, numeral 10. milliones, Anglia tres, Gallia 12. Germania 15. et ita consequenter. Quocirca Sinarum rex sempre in armis habet alitque decies centena millia militum. At vero Noster Nicolaus Trigautius, qui plures annos in Sinensi regno habitavit, et visa, non audita narrat, asserit lib. 1. de Expedit. Sinensi, in eo censeri supra 58. Milliones adultorum, qui regi pendant tributum. Sed in his neque mulieres, neque pueri, neque adolescentes, neque eunuchi, neque milites, neque magistratus, et litterati, aliique multi continentur, qui omnes si computentur, excedunt 250. milliones. Alápide, Commentarii in sacram scripturam, vol 6, p. 457.
          Traduzindo por miúdos, já na altura os chineses eram muitos. Contavam-se as pessoas por quem pagava impostos e, para meu espanto,estavam dispensadas as mulheres, as crianças, os adolescentes, os eunucos, os militares, os magistrados e os homens de letras.
           Boa dica para os nossos políticos... não sei, mas para lá caminhamos. Duma coisa estou certo, como sempre, paga quem trabalha. 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ponta Grossa

      Obrigado a Ponta Grossa.

      Um dos bons passatempos e fonte importantíssima de conhecimento geográfico, é verificar donde nos visitam no blog. Confesso que, em questões territoriais, o que mais me desperta é, sem dúvida, o Brasil. Acabei agorinha mesmmo de receber a visita, não se sei se de homem, mulher ou jovem, oriundo de Ponta Grossa.
     E pensei cá para os meus botões: que outras terras, com nomes igualmente sonantes, não haverá naquele imenso continente. Ponta grossa, ponta fina, ponta longa e ponta curta; meia ponta, ponta inteira, ponta afiada e ponta tosca; ou então ponta rasa ou ponta cheia, ponta de bico e bico de ponta.
     Bem haja ao habitante de Ponta Grossa, se acaso se dignar a abrir este blog. Olhe, cara amiga ou caro amigo, diga qualquer coisa no comentário, nem que seja ao menos para dizer como vai por aí a Ponta Grossa. Olhe, nós por cá, já não temos ponta por onde se lhe pegue.
   

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mundo velho

            Encontrei esta citação em Vieira, na Clavis Prophetarum:

            Numa carta de S. Cipriano a Demetriano, afirmava: "Deves saber que o mundo já entrou na velhice; já não se ergue com as forças com que antes se erguera nem tem aquela força e vigor com que antes se mostrava robusto. O próprio mundo já diz isto e o seu ocaso prova-se com o testemunho das coisas que vão decaindo."
            Ditas assim as coisas, no tempo do Velho S. Cipriano, que não tem nada a ver com os bruxos, o mundo estava velho. Ora, para quem não sabe, S. Cipriano é um padre a Igreja dos inícios do Cristianismo. A ser assim, como estaria hoje?00 De cócoras... Mas não restem dúvidas, está mesmo. Melhor, eu acredito que não, nós é que ficámos todos de cócoras, para não dizer doutra forma. Que, nestas coisas de posturas, desde que a Alemanha perdeu a guerra ficou tudo dito. 

sábado, 22 de outubro de 2011

Kadhafi e o Deus vingativo

    Quem ainda tiver dúvidas acerca do laicismo nas cidades ocidentais e da crescente religiosidade da cidade muçulmuna, tem na morte de Kadhafi o melhor exemplo.
     Na verdade, o Deus ocidental já não presta, tirou-nos completamente a liberdade de matar os tiranos, impede-nos de trucidar, arrastar, fotografar com modernos telemóveis a face ensaguentada dos novos cristos. E a gente fica preso à TV roidinho de inveja, e se nós também pudéssemos fazer o mesmo?
     Sem querer, somos hoje, mais do que nunca, uma das poucas chamas que ainda alimenta o espírito civilizado num mundo de loucos. Vá lá saber-se por que razão, se dum Papa que todos criticam, de meia dúzia de freirinhas que ainda continuam a rezar pela conversão dos pecadores, a gente ainda pensa que matar os tiranos é pecado, mesmo que, ainda há poucos anos, aqueles que mataram um rei gordito e comilão, chamado D. Carlos, sejam heróis da República.
    Até quando, é uma boa pergunta. E quem são os verdadeiros tiranos, é outra boa pergunta. A mim, o Kadhafi, que me lembre, nunca me fez mal nenhum. O mesmo não posso dizer de outros que vivem à minha porta, às tantas, qualquer dia, a gente ainda se converte temporariamente.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ainda o Prémio dos bestiais da Leya

     Há como saber os nomes dos demais finalistas? Manuel Alegre teria anunciado que houve uma "grande disputa" entre os candidatos. Obrigado.

      Esta pergunta foi colocada nos comentários e merece uma resposta pública.

       caro amigo, não me parece que algum dia saibam, pois essa tem sido sempre a política da Leya usada neste consurso, a sombra. Trata-se duma prova cega que faz dos concorrentes um bando de ceguinhos, onde me incluo eu próprio.
     Também entendi perfeitamente a disputa anunciada, no ano passado eram todos bestas, não houve prémio; este ano são todos bestiais. Mas também sei fazer contas e sei que 100000 a dividir por dois são 50000. E até prova em contrário, seguindo a velha máxima, "à mulher de César não basta ser séria, tem de parecê-lo."

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vencedor do Prémio Leya 2011

     A minha pobre e humilde votação determinou que 50% dos votantes acertasse finalmente num escritor lusitano. Parabéns ao João Ricardo Pedro, com "O teu rosto será o último".
       Segundo Manuel Alegre, este foi um dos mais disputados prémios, bom, 160 em 2011 contra 440 em 2008, cada um faz as contas à sua maneira.
       Por fim, um pedido, não façam do prémio uma Santa Casa da Misericórdia. Um estava perdido na Amazónia e os 100000 davam-lhe um jeitinho; este, agora, escreveu o romance quando estava desempregado. Começo a pensar que o Miguel Sousa Tavares, a Inês Pedrosa e outros não concorrem ao Prémio Leya porque já ganham muito. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Rio Douro

      Já não é a primeira vez que este poema surge copiado na blogosfera, em páginas comerciais e agora dou com ele escancarado numa promoção comercial da responsabilidade da Câmara de Gaia. 
     Até gosto, confesso, umas vezes identificado o autor, outras como sendo de anónimo e, com alguma sorte, até passa por ser do "postador ".
    Neste caso concreto, o nome do suposto poeta está lá indicado. Mais nada além disso, até parece que tudo que se coloca na Net pertence à casa da mãe Joana. Ora imaginem que, em lugar dum desbafo sentimental a um rio, tinha saído um desabafo do género a uma loira. Que embaraços não poderiam ser criados a um homem casado, pai de filhos, que não procura chatices. Eu sei que ficção é sempre ficção, mas será que a poesia é mesmo ficção, nem Pessoa encontrou resposta que convencesse.

domingo, 2 de outubro de 2011

Padre António Vieira Completo e Inédito

       A Revista Ler deu a notícia, assinada por mim e pelo meu grande amigo Andreas Farmhouse. Trata-se única e simplesmente do primeiro passo para a concretização dum projeto que leva já uma década de tentativas sucessivamente falhadas, mas que agora, finalmente, tem solidez suficiente para ser levado a bom termo.
       Foram necesssários alguns anos para que fosse possível juntar uma equipa de investigadores à altura da dificuldade da tarefa e do rigor que António Vieira exigia. Mas valeu a pena esperar para ver reunida à volta da mesma mesa gente de idades tão diferentes e com experiências tão distintas. É a intemporalidade do Jesuíta e a sensação de que, por fim, deixaria de ser propriedade de alguns para se tornar uma porta aberta à participação de todos.
     Não se trata, portanto, de mais uma tentativa falhada. É importante dizer que há muito trabalho já feito e que de forma alguma será deitado ao lixo. Esta não é uma equipa de mercenários e de gente que dependa dos marasmos académicos para sobreviver. Muito pelo contrário, é gente que não pode perder mais tempo, os jovens desejam mostrar as suas capacidades de trabalho e de inovação; os mais velhos e experientes pretendem deixar uma herança que corria o risco de se perder; outros ainda, completamente livres das hierarquias académicas, desejosos que o trabalho elaborado ao longo de anos possa dar fruto.
     A seara é grande e não dá só trigo. Desta forma, os trinta volumes desta monumental edição  vai ganhando forma em diferentes sentidos. Da minha parte, cabe-me a tarefa de prosseguir com a vertente epistolar, que se encontra já em fase muito avançada; mas o mesmo poderá ser dito em relação aos sermões e à obra profética.
     Mais do que um anúncio, é importante dizer que a notícia da Revista Ler dá conhecimento de uma composição que já está em movimento, não é propriamente um sinal de partida. Até onde se pretende levá-la e que entraves se podem colocar no seu caminho, essa é a grande incógnita.

domingo, 25 de setembro de 2011

Santa Beatriz da Silva

      Numa terra de gente à beira dum ataque de nervos, diria mais, com as mãos na cabeça sem dar conta de que as calças vão caindo pelas pernas abaixo, talvez não seja má ideia falar um pouco de Santa Beatriz da Silva.
       Que me perdoem os outros santos todos, nomeadamente Santo António, que muito trabalho também há de ter por terras italianas, pergunto-me e que tal, aproveitando a efeméride, que tal pedirmos alguma coisinha a esta santa que está agora a celebrar a bonita idade de 500 anos. Por experiência própria, de milgare ocorrido com um grande amigo e presenciado pela minha pessoa, posso testemunhar que em matéria de objetos perdidos, no caso concreto, objetos roubados, não há melhor padroeira do que esta, mesmo sabendo que a carteira, no caso, rapidamente apareceu sem dinheiro, mas escorreitinha naquilo que se refere a documentos e cartões de crédito.
      Ora eu, que ainda acredito nos sinais, lanço daqui o meu apelo à oração à Santa Betariz da Silva, fundadora da Ordem da Imaculada Conceição, para quem não se recorda, padroeira da nossa terra desde dos tempos de D. João IV. Sendo assim, provado que está ser esta freira particularmente atenta à devolução das nossas identidades e dos nossos créditos; e permita-me S. Beatriz, algo permissiva para com os ladrões, já não me restam muitas dúvidas de que é o orago indicado para nos ajudar a ultrapassar este mau bocado.
      Merece-me santa Beatriz uma grande admiração pela descoberta que recentemente fiz da sua biografia. E num blog onde há sempre lugar a um espaço de ironia e mesmo rebeldia, coloco a imagem que acho muito bonita da praça de Toledo dedicada a Santa Beatriz e à Ordem Religiosa das Concepcionistas. Também neste caso se vê a como somos tantas vezes pequeninos perante a grandeza dos nossos compatriotas. 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Prémio Leya 2011

       Depois de férias virtuais, é altura de regressar ao blog. Sim, ele não está encerrado.
      Regressar com mais força e entusiasmo pela aproximação do grande dia em que, finalmente, saberemos quem é o feliz contemplado com os 100000. Pena que este ano já nem tão pouco saibamos se são muitos, se poucos. Serão brasileiros, turcos, chineses, algum algarvio ou alentejano. Com alguma sorte, será desta vez que ganha o Miguel Sousa Tavares ou a Clara Pinto Correia, ou outro grande nome da radio, da TV e da cassete pirata. Nem sei como têm deixado passar estes anos todos a taluda sem lhe deitarem a unha.
      Eles andam aí, 100000 aéreos, que aéreos foram todos aqueles que até à data viram o prémio a escapar-se por um canudo. Permita-se que peça agora a S. Judas, não ao Iscariotes, mas ao Tadeu, ou então ao S. Cipriano dos bruxos e outras coisinhas do oculto que ilumine o júri tão rigoroso, a modos que liberte os tais 100000 que, em tempo de crise, muito jeitinho darão a um pobre ou até mesmo à Inês Pedrosa ou ao José Rodrigues dos Santos, coisa e tal, a ver se o patrão, desta vez, consegue que o crio tenha alguma visibilidade.
Assim seja.  

sábado, 9 de julho de 2011

Parabéns e facebook

          Quero agradecer a todos quantos me endereçaram os parabéns através do facebook e aos outros que, tal como acontece comigo, deixaram passar ao lado estas datas que esta memória gigante nunca esquece.
          Esta é uma matéria que daria pano para mangas e inclusive largas teses de análise sociológica. Cá por mim, prefiro ficar mais terreno e simplificar a coisa. E digo que gostei e agradeço, diria mais, confesso que estava cansado de receber parabéns do Sr. Engº Jardim Gonçalves; do Sr. Dr. Armando Vara (Caixa e BCP) e só não receberia mais votos de parabéns de outros ilustríssimos banqueiros pela simples razão de não lhes pagar juros, ou despesas de manutenção ou outro tipo de taxas qualquer. Portanto, como os parabéns não se compram, dão-se, dispenso gestos tão amáveis de tal gente.
      Também não gosto nada de receber paabéns da CP, cada vez me pedem mais pelos bilhetes e cada vez é maior o buraco que lançam na economia do país; o mesmo posso dizer da Santa Casa, eis que recebo um email a dizer Parabéns e nem tão pouco me lembrei do aniversário, pensei com os meus botões, na pior das hipóteses, são mais 10 euros, sim, eu jogo online. Abro o email e vejo um bolo, interrogo-me, o que será, e vejo que pedem para aceder à minha página, anunciando uma surpresa. Pensei cá comigo, querem ver que a Santa Casa se lembrou de mim, espreito e... nada, implicitamente era um convite a jogar. A jogar uma ova, que já tinha feito a jogada para três meses, queriam que jogasse mais e eu queria uma prenda de aniversário. Isso não se faz, vamos passar a vida a ser enganados como as crinacinhas.
      Moral da história, no facebook ninguém me cobrou nada nem mostrou qualquer outro interesse a não ser o gesto livre e gratuito de me dar os parabéns, por isso agradeço, prometendo estar mais atento aos aniversários dos outros do que aquilo que tenho estado até agora.

terça-feira, 5 de julho de 2011

PELA REVOGAÇÃO IMEDIATA DO ACTUAL MODELO DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOCENTE E DE TODOS OS SEUS PROCESSOS E CONSEQUÊNCIAS, EM NOME DA SERIEDADE E DA CONFIANÇA

Sua Excelência,
Senhor Primeiro-ministro, Dr. Pedro Passos Coelho.
C/C
Sua Excelência,
Senhor Ministro da Educação e Ciência, Prof. Dr. Nuno Crato.


      É pública a discordância de Vossa Excelência relativamente à filosofia que enforma o actual modelo de avaliação do desempenho dos professores, a qual se suporta na total desresponsabilização da tutela e na completa ausência de dimensão externa, alienando o processo ao arbítrio da avaliação entre pares, em que qualquer um está em condições de avaliar qualquer outro, sem se cuidar do reconhecimento da autoridade, da formação, do rigor, do acautelar de conflitos de interesses e da isenção.
      É, também, pública a forma enfática como Vossa Excelência tem rejeitado os processos em que se tem vindo a concretizar a implementação deste modelo de avaliação, chegando ao ponto de os qualificar, adequadamente, como "monstruosos" e "kafkianos".
     De igual forma, os professores conhecem o seu empenho e convicção em revogar o actual modelo de avaliação, caso contrário não se exporia à acusação de eleitoralismo quando procurou eliminá-lo, no Parlamento, em Março de 2011, do mesmo modo que são testemunhas, tanto do seu aproveitamento eleitoral da figura e das ideias do Professor Santana Castilho, como da sua afirmação de que possuía uma alternativa ao modelo actual ou, ainda, das suas declarações públicas, em sucessivas entrevistas, que iam no sentido do compromisso em acabar com a vigência de tamanha aberração burocrática, pelo que os professores não compreendem outra decisão que não seja a de verem revogado, nos próximos dias, este modelo.
     Certamente, não ignora Vossa Excelência, até porque o Professor Santana Castilho deve tê-lo elucidado à saciedade e o Professor Nuno Crato ainda ontem o reafirmou no Parlamento, que este modelo de avaliação não garante condições mínimas de fiabilidade, de seriedade e de imparcialidade, constituindo, quer o principal foco de conflitualidade e de instabilidade nas escolas, quer o pretexto contraproducente para ocupações burocráticas e para produções folclóricas e artificiais que, além de inúteis e destituídas de qualquer impacto positivo nas aprendizagens dos alunos, se consumam num processo opaco de atribuição de classificações que impede, mercê da sua natureza sigilosa, qualquer possibilidade de escrutínio público da avaliação do mérito dos avaliados, sendo susceptível de gerar injustiças, seja sob a forma de favorecimentos, de prejuízos e, mesmo, de incontrolada subjectividade ou incapacidade na avaliação.
     Não está em causa acreditar que Vossa Excelência proporá uma nova avaliação (até tomo a liberdade de lhe sugerir que, para aumentar a fiabilidade e a isenção do processo, o docente que vai mudar de escalão possa ser objecto de uma classificação de serviço que resulte da média das classificações atribuídas pelo coordenador de departamento/grupo disciplinar, pelo director e pelo inspector da IGE, uma vez reorganizada esta estrutura por áreas científicas/disciplinares), mas, uma vez consciente do carácter arbitrário, perturbador e injusto do modelo em vigor, torna-se um imperativo de seriedade e de preservação da relação de confiança com os professores que Vossa Excelência despache no sentido da cessação imediata dos processos avaliativos que decorrem, neste momento, nas escolas, inviabilizando que cheguem ao seu termo e gerem injustiças irreparáveis, tanto em termos de progressões na carreira e de concursos, como ao nível da deterioração dos climas relacionais e do regular funcionamento das escolas.
     Se Vossa Excelência optar por legitimar este ciclo avaliativo, permitindo a sua finalização, estará, de todo, ciente de ficar associado a uma farsa avaliativa e de ser o responsável pela quebra irreversível da confiança que milhares de professores depositaram em Vossa Excelência, com todas as consequências que daqui advirão em termos, quer da avaliação pública da sua credibilidade, quer da disponibilidade dos professores para se envolverem activamente na concretização das mudanças que postula para a escola pública.
     Na expectativa de que prevalecerá o seu sentido de exigência e de fidelidade às iniciativas e intervenções pré-eleitorais e eleitorais, aguardo a sua decisão de revogação imediata do modelo de avaliação de professores em vigor e a declaração de nulidade de todos os processos em curso e suas consequências.
Subscrevo-me, respeitosamente,
Octávio V. Gonçalves
Professor do quadro da Escola Secundária de S. Pedro, em Vila Real.

P.S.: Por solicitação de colegas, esta tomada de posição será pública, podendo vir a ser subscrita e enviada por outros professores ou escolas.

sábado, 2 de julho de 2011

Londres 1 Roma 0

      No embate casamento anglicano / casamento romano, lamento, mas nem a minha costela católica apostólica romana impede que reconheça que, desta vez, levámos uma autêntica abada.
     Reconheça-se, no entanto, que fomos a jogo com um atleta completamente roto, com prazo de validade mais que ultrapassado. Velho, careca, sei lá mais o quê, talvez com dentadura postiça e outros soluções de substituição. A outra metade da equipa, que não sei se vai jogar à frente ou atrás, reconheço que ainda estará em forma e manda apresentação, mas não seria melhor mandar então a jogo um dos bastardozinhos?
     Sinceramente não gosto, Roma não precisa desta monarquia da treta para mostrar não sei o quê. Uma capelinha bem modesta e privada servia para dar a bênção, que nunca se recusa, mesmo a um noivo de ocasião. O resto é lá com eles, não seria preciso era tanto clérigo para deitar água benta no luxo e na suspeita. Um árbitro, servia da regional, que nem precisava de ser corrupto, bastava para apitar este jogo. O principado já fez engolir alguns sapos, espero, sinceramente, que não faça engolir mais.
     Quanto aos outros, a verdade tem que ser dita, levaram para campo atletas à altura, aptos a jogar em qualquer posição, prontos para disputar muitos jogos durante muitos campeonatos. O bem dos outros nunca me incomodou e, a ver pelo andamento, a união promete.   

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Um caso angélico

   Não pode haver maior castigo por qualquer erro que se cometa do que a morte, chega a ser uma evidência idiota. Está, por isso mesmo, excluída qualquer crítica a um jovem que morre de forma tão trágica. Respeito ao homem e paz à sua alma.
   Mas voltemo-nos para os vivos e para aqueles que nos vendem notícias todos os dias. Basta de meias palavras e factos repetidos à exaustão. Este caso não foi nada angélico, este é mais um acidente típico da imprudência e daquilo que o heroi verdadeiro não está autorizado a fazer. O heroi verdadeiro não vive acima da lei como qualquer "monarcazinho" medieval que pode fazer tudo o que quer e continua a ser idolatrado pelos súbditos.
    E a Comuniação Social, que é cúmplice destes ídolos de plástico, passa um pano sobre o assunto; fosse outra pessoa e não imagino o que diria das consequências de se conduzir sem seguro, de se conduzir sem cinto de segurança e, ainda não me explicaram, que velocidades são essas que fazem rebentar pneus daquele tipo, imagino que muito para cima de 200 Km por hora.   
    E se fosse mais uma caso de romance, paixoneta e coisa e tal, quantas revistas a falar do caso; mas duma jovem, acrescento, duma menor, que também corre sérios riscos de vida, népias, pelo menos não ouvi falar. Não sou apreciador de determinadas músicas e determinados actores, por isso, a minha caridade cristã vai de igual modo para todos os que fatidicamente ali morreram ou sofrem.
    O caso, portanto, não é nada angélico, e a Comunicação Social quer fazer de nós anjinhos. Nós sabemos que são da casa, são eles que fazem as audiências, mas a pouca vergonha tem limites, era bom que uma verdadeira Autoridade para a Comunicação Social metesse esta gente na linha. Este caso, a fazer memória séria e verdadeira sobre o sangue derramado pelo  Angélico, deveria servir de exemplo para os jovens perceberem que os ídolos, como qualquer ídolo, tem pés de barro e, se os devemos copiar nas virtudes, deveríamos também recusá-los nos seus defeitos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Conde da Vidigueira nas provas do 9º ano

       Vieira correspondeu-se com o Conde da Vidigueira, sim, da Vidigueira, pelo menos no séc. XVII era assim que o Padre António Vieira tratava o Marquês de Nisa e a Condessa da Vidigueira nas cartas. Marquês de Nisa ou Conde da Vidigueira, um descendente do Conde de Vidigueira, sim,  de Vidigueira, à moda de Saramago, e que veio a lume no exame nacional do 9º ano.
       É mais um dos achados, não o Achado, da Caverna, que esse aprecio particularmente, mas um dos achados de Saramago e que, de repente, como passe de mágica do Acordo, entram na norma. Espero, sinceramente, que não sejam penalizados os alunos que teimem em identificar a personagem como o Conde da Vidigueira, esquecendo-se, em bom saramaguês, do conde de Vidigueira.

     E já agora, a talho de foice, o texto até pode ser que fique bem no contexto geral da prova, mas para mim é duma pobreza franciscana que dá dó, não resisto à tentação de o dizer.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Será desta?

       Tenho evitado falar aqui das questões da educação, ninguém é profeta na sua terra. Mas não resisti a dar uma opinião para memória futura acerca daquilo que gostaria de ver e penso, quatro coisinhas muito simples.
        Aí vai aquilo que, para mim, seriam bons sinais:
      1º Rigor na avaliação a começar por cima, quando digo por cima, todo o ensino superior. O episódio dos candidatos a juízes foi lastimável, comparado com o rigor, a alta segurança imposta a 12 criancinhas numa sala, vigiadas por dois adultos, depois de lidas uma série de páginas de avertências para uma simples prova de aferição. Senhor Ministro, acabe de vez com estas situações ridículas. O meu avô, e julgo que também o avô de V. Excia, era muito entendido nestas matérias e disse sempre, ao meu pai, e julgo que também terão dito ao pai de V. Excia, que o exemplo vem sempre de cima. Não lavemos mais roupa suja, mas paremos de vez com este chavão de que tudo tem que começar no Jardim de Infância, tretas...
      2º Confiança e autonomia nos professores, ou sabem ensinar e avaliar ou não sabem. Se sabem, confie-se na avaliação feita por eles. Os exames não servem para nada, por outras palavras, dispense-se de exame o aluno que teve um percurso normal, sujeite-se a exame nacional todo o aluno que não foi cumpridor. O país não precisa de gastar milhões a sujeitar toda a gente a exames. Basta que o Ministério, para uma observação interna, realize um sorteio de escolas, do ensino oficial e do ensino particular, com equipas de avalaição externa, destinadas a ver de que forma a avaliação interna está de acordo com uma valiação externa. É urgente acabar com os boatos dos colégios destinados a receber meninos que querem seguir medicina.
       3º Disciplina. As medidas disciplinares não podem dizer respeito unicamente ao aluno, tem de haver um conjunto de medidas disciplinares muito concretas que responsabilizem o encarregado de educação. Se isso não acontecer, não haja ilusões, é impossível aplicar medidas disciplinares a um aluno que tem como principal aliado no comportamento indisciplinar o respectivo encarregado de educação.
         4º e último, fim das reprovações. Não há dinheiro para pagar reprovações dos alunos. Dois certificados de habilitações no final de cada ciclo, A e B, conforme o aluno tenha cumprido o respectivo ciclo com sucesso ou unicamente com frequência. No 12º ano, ficando só com um certificado de frequência, o aluno só poderia prosseguir estudos depois de ser sujeito a exames nacionais. É evidente que estas medidas são incompatíveis com certificação das novas oportunidades. Em qualquer fim de ciclo, o aluno pode sempre, através de exames nacionais, passar do cretificado B para o A.
       Para mim basta, o resto é nevoeiro, e o que é preciso é clareza e transparência.
       

terça-feira, 21 de junho de 2011

Somos menos, felizmente

      Li recentemente, na revista Tempo Livre , uma das muitas crónicas que o senhor Fernando Dacosta costuma escrever. Quando digo costuma, quero dizer que não é a primeira vez e, portanto, esta é uma resposta isolada e nada tem a ver com a pessoa que a escreve, cada um é livre de pensar o que quer, mas com o autor pontual da crónica e do veículo destas ideias, no caso uma revista pública da responsabilidade do INATEL.

     O artigo, tenho de confessá-lo, é perigoso, diria mesmo de terrorismo de estado. Este senhor, um ancião respeitável, no momento da vida em que devia olhar para o mundo que o rodeia como um lugar de vida e de felicidade, atrever-me-ia a dizer como um tesouro sempre mais enriquecido para legar às gerações futuras, não… egoisticamente deseja que cada vez seja menor o número daqueles que um dia possam usufruir de um dom tão simples como o da vida.

      Chega a parecer monstruoso, e pergunto como é possível que seja publicado um texto que afirma, passo a citar: “Vamos ser, em 2100, apenas 6,7 milhões de portugueses (a mesma população de 1920), catastrofizam demógrafos. E daí? Quererão mais jovens para somar aos que deambulam sem ocupação, sem saída, sem futuro? mais jovens a viver dos pais e avós (que no final da vida têm de subtrair ás cada vez mais subtraídas pensões o seu sustento?); mais jovens para largar o mercado dos prostitutos, dos delinquentes, dos drogados, dos excluídos? Não lhes chegam as centenas de crianças a dormir nas ruas de Lisboa? Nãos lhes bastam os milhares de adolescentes a procurar, em vão, o primeiro emprego?”

     A lista de aberrações, pois não conheço outro termo, é tal que só podemos ficar perplexos, praticamente sem palavras, tal a distorção deste raciocínio. Como é possível que uma instituição como o INATEL não tenha uma palavrinha de contenção para afirmações destas que só podem ter desculpa na senilidade, tal o número das imprecisões, desde gralhas de ortografia a afirmações que só uma intenção ficcional poderia tolerar, mas não acho que assim seja. Este pensamento é dum egoísmo atroz e, perante uma visão do mundo tão radical, só me ocorre uma resposta com a mesma radicalidade. Para o senhor Fernando Dacosta, é preferível não nascer a ser prostituto, drogado ou delinquente; para o senhor Fernando Dacosta é preferível não nascer a não ter um futuro na vida ou viver na dependência dos pais e dos avós; para o senhor Fernando da Costa é preferível ser um aborto a ser uma criança a dormir nas ruas de Lisboa; não respondo à última premissa, pois o trabalho dos adolescentes ainda é considerado trabalho infantil e nem imagina aquilo que está a escrever. Este senhor, pode dizer-se, tem ódio à vida. Parte do princípio de que, todos aqueles que não são prostitutos, têm emprego, não são delinquentes, são felizes e o mundo, através deles, fica melhor. Não, meu caro amigo, fica muito pior, e ainda muito pior com pessoas que pensam como o senhor. Não queria ser inconveniente, mas tenho que lhe dizer que o mundo não precisa nada do seu pensamento, pois nunca me atreveria a dizer que não precisa do senhor para nada.

     Eu sei donde vem esta forma de pensar, o último parágrafo descobre a máscara: “Semelhantes posturas levam a apontar como causa dos problemas o que são - despenalização do aborto, uso do preservativo, legalização do divórcio e do casamento homossexual-. consequência deles. As conquistas que representam não constituem ataques à família tradicional, mas mudanças ao seu paradigma, isto é, possibilidades para cada um escolher modelos de afectuosidade mais ajustados a si - o que significa um acentuado enriquecimento civilizacional”. Só não imagina onde quer chegar quem é burro. Mas ainda bem que os senhores, de vez em quando, deixam fugir a boca para a verdade e são as verdades que precisam de ouvir. O seu avanço civilizacional é o “Não à Vida Humana”, é assim que tem que ser dito com as letras todas. E isto em nome duns direitos que escolheram como bandeira para mostrar que existem, caso contrário, não teriam nada que dizer ao mundo que não estivesse já dito há muitos milhares de anos. Esse é o vosso problema. Termino só com um pequeno pormenor que me dá todo o direito de dizer o que digo. Sabe, senhor Fernando Dacosta, é com textos como o seu que eu cada vez mais tenho orgulho na Igreja a que pertenço, pois tenho a certeza que em lado algum alguém se atreveria a dizer que o mundo ficará pior se continuarem a nascer homossexuais, abortadeiras, prostitutas e pedófilos.

Tempo Livre, Junho 2011, nº 227, p. 82

domingo, 19 de junho de 2011

O novo

    Confesso que sempre gostei do "novo". Não é que tenha nada contra o velho, antes pelo contrário. Talvez passe a maior parte do meu tempo a bisbilhotar o velho. Mas pronto, nunca me deu para velharias; não aprecio carros velhos. Preferi sempre o novo, de preferência cheio de coisas e coisinhas novas, vidros a subir e a descer, pipis de estacionamento para a frente e para trás. Como dizia o outro senhor, um venerável velho, gosto mais dos "pelinhos" destas novidades. São gostos e os gostos não se discutem.
    E tudo isto propósito do novo governo, que parece ser mesmo novo. Pois... e a gente fica a pensar, mas gosta. Agora o problema, sejamos francos, são os perigos que isto acarreta. Sempre gostei de correr o risco do novo, é certo. Às vezes sai o tiro errado, são os vidros que não sobem, os sensores que deixaram de fazer pipi e, puuuuuuummm, paga. Faço votos, aliás, a minha carteira faz votos para que, com este novo, não precisemos nós todos de termos de ir para a garagem mais cedo. Realmente a máquina parece querer apresentar-se à primeira vista como um moderno compacto, recheado de alta tecnologia. Parece que muita dela não veio da China, veio da América, parece ainda mais fiável, no entanto o Chevrolet já não é o que era.
    Fico a aguardar, mas desde já gostaria de testar particularmente algumas das peças essenciais da nova máquina. Em primeiro lugar os travões, derrapagens serão fatais. Depois os airbags e os cintos, a idade já não me permite brincar com a falta de segurança. Por fim, e para terminar, os farois. Não sei por que razão, detesto o Xénon. Essa é das poucas modernices de que não gosto. Quando vejo umas trombas à minha frente de Xénon fico pior que estragado. De dia, vá que não vá, lembra cagança; mas de noite incomoda mesmo. Preferia sinceramente aquelas lâmpadas horríveis, amarelas, de antigamente, que diziam logo que era um carro francês. Deixo, por isso, o meu pedido. Novo, sim, mas Xénon, não; para Dona Elvira de Xénon já nos bastou estes últimos seis anos.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Recensão de José Eduardo Franco

A Corda de Judas Iscariotes: O Quinto Império do Mundo, Carlos Maduro, Lisboa, Fonte da Palavra, 2010.

     A Corda de Judas Iscariotes: O Quinto Império do Mundo da autoria de Carlos Maduro (Lisboa, Fonte da Palavra, 2010) é o romance de estreia do investigador Carlos Maduro nas lides da criação literária, pois no mundo da história e da crítica literária já tem provas dadas. Com efeito, o autor tem-se revelado como estudioso de Vieira, tendo concluído uma tese de doutoramento inovadora sobre a epistolografia do grande pregador jesuíta do tempo do barroco e, presentemente, está a coordenar uma nova edição global das cartas vieirianas com documentos novos e acertos em relação à clássica edição de João Lúcio de Azevedo. É, portanto, um bom conhecedor dos arquivos e do discurso epistolográfico de Seiscentos, beneficiando este romance em muito deste seu conhecimento.

     Estamos diante de um romance verdadeiramente notável que esperamos possa iniciar uma nova tradição, ou pelo menos, um novo subgénero no âmbito da criação literária e que venha para ficar.

    Trata-se do que podemos chamar um romance cultural e pedagógico muito útil para reviver e revisitar factos, acontecimentos, mentalidades do nosso passado estabelecendo a sua ligação subterrânea com o presente, surpreendendo continuidades que ainda subsistem contemporaneamente.

     Vários temas, várias problemáticas, vários cenários e tempos históricos são aqui cruzados, interceptados, interligados e colocados em diálogo funcional para abrir uma extraordinária janela de conhecimento e de compreensão vivencial dos contextos e dos tempos históricos em contraponto. Diásporas dos judeus sefarditas na sequência da intolerância ibérica na modernidade e das perseguições da inquisição, a onda de euforia messiânica, finimundista e profética que nos século XVI e XVII atravessou transversalmente tanto o cristianismo, como o judaísmo e até o islamismo.

     O tempo do Padre António Vieira, os judeus da diáspora portuguesa jogados pela inquisição para a Holanda e outras paragens menos intolerantes, o diálogo com as comunidades judaicas sensíveis a expectativas messiânicas periodicamente excitadas por esperanças eufóricas em torno de datas e figuras que se sucedem no jogo dramático das interpretações. Assim como no século XVI e XVII, na sucessão de datas finimundistas e de messias malogrados, marcados com desilusões, por vezes, trágicas pessoas e comunidades inteiras, também no nosso tempo o romance encena a subsistência de pequenos redutos de judeus sefarditas que mantêm a esperança expressa em práticas rituais e iniciáticas de carácter messiânico, esperando o dia da glória de Israel.

     É nesta paleta sobreposta de épocas e figuras históricas que se tece o enredo e uma belíssima e apaixonante história de amor entre dois estudantes de Relações Internacionais em Genebra: uma judia, filha de uma poderosa família hebraica holandesa descendentes dos judeus portugueses, e um estudante português de trás-os-montes, que veio a descobrir-se de sangue cristão-novo judeu. Apesar de acabar em tragédia devido a mais um não vingar da esperança projectada em Ester Cardoso noiva de José Mendes, que se tornou alvo de mais uma expectativa gorada de vir a ser mãe do messias que está para vir, o enredo permite ao romancista, na sucessão alternada de capítulos que põem em confronto tempos e contextos históricos diferentes, de explicar com uma extraordinária aparelhagem de informação os trajectos dramáticos do cripto-judaísmo e da diáspora judia em consequência da intolerância portuguesa e espanhola aplicada inquisitoriamente.

     Sendo o autor do livro professor e investigador, oferece ao longo do enredo uma espécie de visita guiada ao mundo secreto, íntimo, familiar das práticas judaicas e ao património simbólico do judaísmo resistente a todas as perseguições históricas, onde a parte da corda de Judas deixada em Portugal ganha especial relevo.

     É um romance que se lê com atenção e tensão crescente, oferecendo ao leitor um desfecho surpreendente. Beneficia-se desta leitura não só pelo prazer de contactar com uma apaixonante história de amor interceptado com muitas outras pequenas histórias de judeus e cristãos que se cruzam nos caminhos da vida e das esperanças que os fazem mais parecidos do que émulos. De algum modo, esta obra permite revisitar Vieira e compreender o seu sonho/projecto de entendimento/acolhimento dos judeus no seio das sociedades católicas, consubstanciados na sua utopia do Quinto Império. A possibilidade de quebrar as fronteiras das raças, tradições e religiões que dividem a humanidade e têm impedido um convívio pacífico entre modelos de vida, de crença e de pensamento diferentes é uma utopia que moveu grandes homens do passado e do presente, projectando um mundo novo. Esta obra faz de algum modo uma homenagem aos que acreditaram e labutaram contra a intolerância altamente devastadora e predadora dos ideais de fraternidade entre os homens.
 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O dia da Troika

     Proponho o dia 10 de Junho como o primeiro feriado a ser retirado em memória da Troika. Por outras palavras, um feriado a ser suspenso até que voltemos a ser soberanos e nação livre de humilhações. É ridículo que um país faça a celebração duma independência e duma nacionalidade que lhe foi parcialmente amputada.
    Não duvido que Camões, lá em qualquer céu etéreo onde se encontre, vai encarar esta ideia com a maior das simpatias e até nos manda um piscadela de olho, piscadela não, pois ficaria com os olhos fechados, em sinal de aprovação.
      Que me importa a mim que se fale de dia da raça ou dia das comunidades, se a TV, logo a seguir, passa programas onde os nossos compatriotas afirmam que tão cedo não pensam cá pôr os pés; e os que cá estão, falo particularmente dos mais jovens, só pensam em pôr-se ao fresco. Dia da raça, ou dia do "pisga-te enquanto é tempo"; dia das comunidades, ou dia o "fisga-se que nunca mais lá volto". Que me importa a mim que seja o dia de "Camões" se até o Primeiro Ministro demissionário vai para Paris estudar Francês e Filosofia, quando para ele bastavam Lusíadas somente.
Parafraseando o Poeta, e como prova de que bastaria conhecer o Poeta para não precisar de porcaria de Filosofia nenhuma, ainda por cima vinda de Paris, cito:

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso dos meus anos;
Dei causa a que a fortuna castigasse
As minhas mais fundadas esperanças.

De amor não vi se não breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!"


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube

    A imagem é emblemática e é um lugar comum para quem dá um passeio pelo centro de Frankfurt. Mesmo ali ao lado dos senhores que mandam uns trocos para o reino dos mercedes, audis e BMW's, os pobres servos do capitalismo alemão movimentam-se de bicla. 
    Num pequeno intervalo de mudança de avião do movimentado aeroporto de Frankfurt, é muito aconselhável fazer uma visita ao centro desta simpática cidade, quanto mais não seja como exercício de caridade para com este pobre povo que continua, em pleno século XXI, a ter que dar à perna para ganhar a vida, ou simplesmente dar uma curva.
     E não se pense que eles, lá por viverem na terra do capital, andam de bicla Trek. Para mim, eu cá gosto mesmo é da Trek 6.9 Madone SSL. Só de lhe ver os atributos até me dá o treco, imaginem só um Quadro: OCLV 55/ HM em Carbono; uma Forqueta: Bontrager Race X Lite, em carbono; uma  Caixa direcção: Cane Creek S-8, rolamentos sela dos; Travão dianteiro & traseiro: Shimano Dura-Ace; Manetes travão: Shimano Dura-Ace STI;  Desvia dor dianteiro: Shimano Dura-Ace; Desviador traseiro: Shimano Dura-Ace; Manípulos mudanças: Shimano Dura-Ace  STI , (10veloc.); Cassete: Shimano Dura-Ace 12-25, (10 veloc.); Pedaleira: Shimano Dura-Ace 53/39; Pedais: N/D; Aros: Bontrager Race XXX Lite em Carbono Clincher, pistas de travagem maquinadas; Pneu dianteiro: Bontrager Race X Lite, 700x23c; Pneu traseiro: Bontrager Race X Lite, 700x23c; Selim: Bontrager Race X Lit e Pro; Espigão selim: Bontrager Race X Lite em Carbono. Preço: €8 350,00. E digam agora se um português não pode ser feliz montado numa coisa destas? Há crise que resista à felicidade ter uma coisa importada destas?
        Mas eles não, aqueles coitados, o modelo mais usado é aquele a que vulgarmente, na minha terra, chamamos reca. Reca em todos os sentidos, no modelo e na aparência, ou não estivessem também as pobres coitadas sujeitas às impertinências intestinais da passarada. Recas e mais recas, que parece ninguém querer roubar talvez pelo facto de serem recas.
     E é isto, os alemães andam nisto. Pobre povo, sujeito ao peso dos pedais que ruidosamente puxam uns largos Kilos de aço, uma ou outra roda de alumínio e pouco mais. Ficamos indignados e pergunta-se: aqueles gajos ainda não descobriram as ligas de carbono? Miseráveis, pobretanas, que venham cá, sim, venham cá, que deem uma voltinha ao Domingo pela Foz e vejam o que são biclas a sério. Eu, sinceramente, até tinha vergonha de ser alemão.   
    Por isso, se tem uma bicla de gente, que se apresente, está deste já convidado para mais raid em BTT no Paraíso da Foz.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pra cá do Marão mandam os que de lá são

       Nunca o outro provérbio foi tão falso e nunca esta adaptação foi tão verdadeira.
      Começo pelo primeiro. Efectivamente, quem de lá é nada manda. E nem é que quisesse mandar, só não queria que se lhe aplicasse o velho adágio do "Ruim pássaro que nasce em ruim ninho". E não queiram chamar-me lamúrias, ainda ontem vimos o Engº Sócrates a passar por Vilar de Maçada como gato pelas brasas. Sei, a propósito, que o sino e a torre de Vilar de Maçada foram atingidos por um raio, vai para mais de um ano e não sei se foram reparados, seria esse o motivo? Raios levem o homem, não ia agravar assim tanto o calote da nação.
      Também não sei o que mandará Passos Coelho na terra. Sei que em Valnogueiras são pessoas estimadas, sempre foi aprendendo a trepar a cerejeiras, já agora também deve ter ido aos figos lampos e tenho suspeitas que deve ter comido umas boas abebras. Enfim, siga, mas que tenha sido administrador do Chaxoila, ou da barbearia do Zé do Rio ou mesmo da tasca do Murrinha, duvido. Teve obrigatoriamente de procurar outras de maior dimensão para além da malfadada montanha.
      E o mesmo poderia dizer do José Durão Barroso, do Armando Vara ou do Silva Pereira, só que não gosto de ser má língua. Porque até no mandar, o outro teve de mandar Robalos de Esmoriz.
      E eu que mando? Pois... mando nada. Mando vir uns covilhetes na Gomes e nada mais. Já algumas vezes mandei convites e informações sobre as coisas que vou escrevinhando e publicando, e que pouco ou muito vão tendo alguns comentários agradáveis, mas para lá do Marão devem ser coisa de turco ou de judeu marrano fugido, tal é o silêncio que o raio do morro impõe. Aguardo, sinceramente, que o túnel deixe passar alguma coisinha mais rasteira.
    Provado assim que está o primeiro axioma, passemos ao segundo. Que até parece que já não há salvador da Pátria que não tenha emigrado de Santa Comba uns Kilómetros mais arriba. Até já chegaram a Bruxelas, veja-se lá a raça de marranos. Perdão, marranos não, que um diz que é africano. Mas isso é ilusão e charme, o homem tem origens em Valnogueiras. Ou marranos ou dos mais genuínos lusitanos fugidos Zamora, que nem se governam nem se deixam governar, lá... mas que sempre souberam muito bem governar-se, cá...

domingo, 8 de maio de 2011

Arte de Cartas Missivas


Arte de Cartas Missivas, pp. 105-11

Resumo:  O presente artigo procura reflectir sobre a epistolografia no contexto da retórica clássica, mais especificamente sobre a retórica epistolar. Numa breve retrospectiva histórica da epistolografia ao longo da Antiguidade, Idade Média e Renascimento, interpela-se o leitor acerca dos valores do lugar epistolar na cultura contemporânea. Valorizam-se, deste modo, os princípios do modus vivendi, amicorum colloquia absentium e da cortesia epistolar, benevolentiae captatio.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Com está senhora presidenta? Com tanta imaginação, já ninguém aguenta!

Num intervalo, vale a pena pensar sobre este e-mail enviado por um amigo. Nem está em questão o acordo, está em questão o nivelamento em que corremos o risco de cair e os pontos de referência desse mesmo nivelamento. Por outras palavras, aristocarcia não é sinónimo de cultura nem o respeito pelos bens culturais implica com o fantasma do proletariado bacoco e completamente caduco.


[BR] Presidenta ??

O novo acordo não o previa..... mas com a língua de Camões, não se brinca
Com a palavra os professores de língua portuguesa: Antonio Oirmes Ferrari, Maria Helena e Rita Pascale
Presidenta ??? Vale a pena ler pela aula de português
Queridos Amigos,
Tenho notado, assim como aqueles mais atentos também devem tê-lo feito, que a candidata Dilma Roussef e seus sequazes, pretendem que ela venha a ser a primeira presidenta do Brasil, tal como atesta toda a propaganda política veiculada pelo PT na mídia.
Presidenta???
Mas, afinal, que palavra é essa totalmente inexistente em nossa língua?
Bem, vejamos:
No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendigar é mendicante...
Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.
Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta".
Um bom exemplo seria:
"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta.
Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta."

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

RTP um e-mail, será verdade?

Assunto: VAMOS FECHAR A RTP SE ÉS PORTUGUÊS E GOSTAS DE PORTUGAL TENS O DEVER DE FAZER ALGUMA COISA.

CHEGA DE SERMOS ALDRABADOS, ROUBADOS, GOZADOS.

CHEGA DE FALTAS DE RESPEITO POR QUEM TRABALHA.

O LUÍS NAZARÉ DISSE QUE BASTAVA QUE PRIVATIZASSEM A RTP PARA NÃO HAVER ESTA AVALANCHE DE CORTES NAS RECEITAS E AUMENTOS DE IMPOSTOS.

EM VEZ DISSO, O GOVERNO QUER AUMENTAR EM 30% A TAXA DE AUDIOVISUAL DEBITADA NA FACTURA DA EDP PARA PAGAR OS ORDENADOS MILIONÁRIOS DOS FUNCIONÁRIOS DA RTP, por ex.:

Judite de Sousa: 15.000,00 EUR / mês x 14 meses

Catarina Furtado: 25.000,00 EUR / mês x 14 meses

Malato: 20.000,00 EUR / mês x 14 meses

O escritor: 16.000,00 EUR / Mês x 14 meses

O chefe de programação: 17.000,00 EUR / mês x 14 meses

etc., etc., etc..

Por outro lado um casal que tenha 1 filho e ganhe no seu conjunto 800,00 EUR mês é-lhe retirado o abono de família.

Esta gente está no seu perfeito juízo?

Devem estar a gozar com a nossa cara. Até aqui pensaram que éramos todos estúpidos. Agora pensam que somos parvos. E se este orçamento passar a culpa é dos todos os portugueses que deixam o país ser gerido por estes politicozinhos provincianos que nunca geriram nada, que não sabem nada, que levaram o país à falência, que fizeram leis para terem 2, 3 e 4 reformas e deixar o povo à míngua.

ESTAMOS A VIVER A DITADURA DA DEMOCRACIA.
VENHA O FMI. VENHA BRUXELAS. VENHA A ALEMANHA. VENHA ESPANHA. VENHAM TODOS GOVERNAR ESTE PAÍS.

POLÍTICOS PORTUGUESES DEMITAM-SE.

VENDAM A RTP. FECHEM A RTP. NÃO NOS ROUBEM O PÃO NOSSO DE CADA DIA.

DEIXEM-NOS VIVER COM DIGNIDADE. DEIXEM VIVER OS NOSSOS FILHOS PORQUE TÊM ESSE DIREITO. NÃO NOS ASFIXIEM MAIS.



REPASSA PARA QUE CIRCULE POR TODO O PAÍS.
 
PS. Não curto Malato, não curto Catarina, acho que não valem os feijões que comem, é a minha opinião.

sábado, 15 de janeiro de 2011

José Ilídio Torres - Diário de Maria Cura

     Entre muitas mudanças de hábitos que a Net trouxe, está esta possibilidade de se irem construindo tertúlias virtuais, que começando por ser virtuais, acabam por criar laços de amizade entre autores. Por isso, enquanto tiver nomes e livros para apresentar aqui dos meus amigos, vou fazê-lo com um gosto muito particular.
     O José Torres é uma personalidade muito especial, entende-se melhor quando se conhece e esse é um privilégio que não é dado a todos. Poderia aqui sugerir algumas das suas obras poéticas, mas essa não é a tendência deste blog, tendo o Torres publicado um romance.

"Diário de Maria Cura" - Sinopse

      Uma bela mulher é assassinada na noite de Carnaval. A polícia, na procura de pistas que levem ao criminoso, depara-se com um diário num site de escrita chamado Luso-Poemas, onde a falecida retrata sobre a identidade de Maria Cura uma série de relacionamentos que mantém.
Há uma pergunta sem resposta no ar:
Quem matou Maria Cura?