Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



quarta-feira, 26 de maio de 2010

Restituição da Nacionalidade Portuguesa aos Judeus Sefarditas Portugueses

Nós, cidadãos portugueses, através dos signatários desteabaixo-assinado, viemos perante os Poderes constituídos da República Portuguesa, apoiar a restituição da nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas portugueses.

http://www.ipetitions.com/petition/apoio_nacionalidade_sefaraditas

Florença e Cosme III de Médicis

      Florença é inseparável da família Médicis. Talvez muita gente ignore, mas o Padre António Vieira foi amigo de Cosme III, o célebre príncipe que percorreu uma parte da Europa e também Portugal para se instruir, tendo ficado próximo e amigo dos portugueses. Vieira admirava-o particularmente e terão trocado largas dezenas de cartas que desconhecemos.
    O Palácio Pitti ou Palazzo foi, sem qualquer margem de dúvidas, lugar de muitas conversas entre os dois. Hoje temaos a certeza de de que ambos tinham enorme curiosidade pela botância, Cosme era particularmente curioso em relação à flora tropical, e Vieira deveria ser um exímio conversador nessas matérias.
     Mas haveria necessariamente outras conversas, as conversas que "A Corda de Judas" tenta descobrir ou nem tanto. Alertamos para o facto de que, nesta passagem de Vieira por Florença, a margem entre a ficção e a verdade histórica é muito pequena.  

terça-feira, 25 de maio de 2010

Esmirna

      Esmirna é uma cidade que constitui um dos espaços centrais na acção da Corda de Judas Iscariotes. Por estranho que isso possa parecer, esta cidade da actual Turquia constitui-se num dos centros mais importantes no encontro de civilizações.  Poder-nos-íamos interrogar aceca destes locais que no passado foram o ponto de encontro da tolerância e do convívio pacífico entre culturas e religiões e que acabaram, nos dias de hoje, por tornar-se exactamente no oposto. Honra seja feita a Esmirna que ainda vai mantendo, dentro do que é possível, esta ponte entre o oriente e o ocidente.
     Por isso, de forma quase que natural, fomos econtrar nesta cidade toda uma história e um encontro de culturas que permitiram entender aquele que foi um dos movimentos messiânicos mais imporantes, a que chamámos o Movimento dos Sabatianistas de Esmirna. O convite fica feito, convite a percorrer a rua das sinagogas, mesmo que algumas delas se tenham transformado em casa de comércio de aves. Na imagem, uma gravura muito curiosa de uma das muitas sinagogas com o nome da "Sinyora", A Senhora, o mesmo que dizer Gracia Nasi.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

As Cartas de Vieira, um paradigma da retórica epistolar do barroco

      Foi admitida na Universidade Católica Portuguesa a tese de doutoramento intitulada  As Cartas de Vieira, um paradigma da retórica epistolar do barroco. Aguarda-se agora com a tranquilidade q.b. a defesa desta tese. É resultado de 10 anos de investigação que será sujeita ao julgamento do respectivo júri. Todavia, a razão deste post reside exactamente no facto de que, sem este trabalho científico, não teria sido possível escrever A Corda de Judas Iscariotes. Este dado, só por si, sem querer de forma alguma introduzir rigor científico na acção deste romance, atesta pelo menos da seriedade e da dedicação com que foi escrito. O julgamento, esse pertence aos leitores.

domingo, 23 de maio de 2010

Estratégia militar, o estreito de Messina como porta do Quinto Império

     Até onde foi a ambição dos nossos reis e dos nossos políticos na conquista e domínio dos mares e oceanos é uma questão que ainda tem muito pano para mangas. Normalmente fala-se do domínio dos mares, mas talvez fosse apropriado referir mares e oceanos. Oceano enquanto campo vasto à aventura e à descoberta, mar enquanto espaço rodeado pelos outros.
     E é este outro ou outros que nos remete para o mar por excelência, o Mediterrâneo. Os oceanos pouco nos deram, por outras palavras, uma vã glória de mandar. O mar era diferente, esse poderia não dar a glória, mas daria forçosamente o poder de mandar. É neste contexto que surge a afirmação do estreito de Messina como porta e como plataforma do domínio dos mares do turco, hoje diríamos do Islão. E é muito estranho observar este povo, o nosso, que até foi grande no oceano, mas foi tão pequenino no mar. Mesmo que ainda o tivesse tentado. A história da Sicília, e muito particularmente de Messina, no último quartel do século XVII, é uma caixinha de surpresas. 

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A circuncisão

     O ritual da circuncisão é um momento particularmente curioso na acção deste romance, na medida em que permite uma construção da narrativa densa e cheia de simbolismo no encontro amoroso entre um cristão e uma judia. Enquanto momento fundamental na conversão ao Judaísmo (apesar de existirem grupos que já não o exigem), pretendeu-se dar-lhe um perspectiva de modernidade, sem que isso alterasse o horizonte último do respeito pelos rituais de cada religião.
     Na verdade, os órgãos sexuais tornam-se também eles num instrumento do sagrado em todos os momentos e ciclos da vida. A perspectiva judaica da sexualidade, profundamente ritualista, não tem, no final de contas, os tabus que os cristãos lhe foram atribuindo ao longo dos séculos. Sabemo-lo muito bem, esta visão dualista do bem e do mal, do mal associado à carne e do bem associado ao espírito, é uma herança grega, não foi uma herança judaica.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Ladino

     Só um país em profunda decadência pode dar-se ao luxo de ignorar o passado. É tempo de olhar o passado também a partir do presente, não olhar apenas para as pedras mortas, mas para pedras vivas dum tempo e dum lugar que ainda teima em resistir no falar de autênticos heróis do mais valioso testemunho do passado: a cultura viva e a língua. Esta é uma homenagem simples que o romance A Corda de Judas Iscariotes faz ao Ladino.  
     Dois países irmãos, Portugal e Espanha, que se dão ao luxo de deixar perder esta herança, cometem um crime cultural que será irreparável. Estima-se que ainda é falado por cerca de 150 mil indivíduos em comunidades sefarditas em Israel, nos Balcãs, Oriente Próximo e norte de Marrocos; também é conhecida como espanhol sefardita e judeoespanhol. 
     Contudo, se observarmos alguns textos, perguntamos até onde deverá ser considerado espanhol, bastaria compará-lo com os dialectos da raia para ver as aproximidades e as diferenças. Se protegemos, e muito bem, o Mirandês, que não é um dialecto nosso, será correcto deixar o Ladino ao abandono?

Ladino

Avre este abajur, biju

avre la tu ventana
por ver tu kara morena
al Dió daré mi alma.
Por la puerta io pasi
y la topi cerrada;
la iavedura yo besi
como besar tu cara.
No quiero más que me avlesh
ni por mi puerta pasesh;
más antes me keríash bien
angora te ielatesh.
Si tú de mí te olvidarásh,
tu ermozura piedrarásh.
Ningún ninyo te endenyará
en los mis brazos muerash."

Mirandês
 
_ "Ai!… You nun podie falar!…"

_ Diç la nina, mui sentida _
_ "I la mie lhéngua soltou-se.
Parece que tengo outra bida!…"
…………..
_"Andai a bé-la, no Monte,
Beni!… I podereis crer!…
… You, q’era mudica I xorda,
Oubo I falo! … _ stais a ber?!…"
_"Mas que stranha cousa esta _"
_ Diç tola giente admirada _
_"Cumo fui isto?… Eras muda,
I agora, falas tan clara?!…"
……………
_" Milagre!…" _ Diç tola giente _
_ "Que cousa tan d’admirar!…
Scoba frolida an Agosto,
La nina muda a falar!…"


quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Capa

      Já não é segredo, a capa do romance A Corda de Judas Iscariotes acaba de ser publicada no site da minha editora, A Fonte da Palavra. Digo minha editora pelo facto do seu responsável nos tratar a nós, os autores, com um carinho, respeito e atenção que nos permite sentir a todos este projecto, como duma família se tratasse unida pelos livros.
    Obrigado, amigo José Marques, pelo cuidado e pelo entusiasmo que colocou nesta capa. Obrigado ainda aos amigos dos nossos amigos que também deram as suas opiniões para que este romance tenha o sucesso que todos desejamos. É estimulante saber que a Corda já não pertence ao autor e não vai ficar a aguardar pelas disponibilidades de agenda. Valeu a pena esperar para ver nesta capa o Beijo da Traição.

domingo, 16 de maio de 2010

A Cabala

      Cabala, também conhecida por outras formas de escrita: Kabbalah, Qabbala, Cabbala, Cabbalah, kabala, kabalah, kabbala é tão misteriosa como as diferentes formas de escrita. Poderemos encontrar dezenas de definições e nenhuma nos diz o que realmente é a Cabala, pelo simples facto de ser uma sabedoria que investiga a natureza divina. No entanto, se repararmos no significado etimológico,  a  Kabbalah (קבלה QBLH) é uma palavra de origem hebraica que significa recepção.
     São vários os romances que abordam esta temática e as pesonagens que a envolvem, os cabalistas, entre nós o mais conhecido talvez seja o ´"Último Cabalista de Lisboa" de Richard Zimler. A Corda de Judas Iscariotes não vai revelar os segredos da Cabala, mas acrescenta um novo dado, na medida em que desenvolve a possível ligação da Cabala às sociedades secretas da actualidade. Cabala, na perspectiva do autor é essencialmente luz, o conceito é muito vago, mas simbolicamente é o que melhor exprime o acto de recepção e de descoberta da natureza divina.
     Aliás, se tivermos em conta  as experiências dos maiores místicos, de que Santa Teresa de Ávila é um dos melhores exemplos, todas elas se aproximam de experiências cabalísticas.

sábado, 15 de maio de 2010

Judeus Sefarditas

      Independentemente da discussão à volta do termo sefardita, se estes seriam judeus oriundos do Sul de Espanha e do Sul de França, normalmente entende-se por sefarditas os judeus que foram expulsos de Espanha e de Portugal, a partir do reinado de D. Manuel, tendo-se refugiado na Holanda, nas cidades italianas mais influentes da época e na Turquia.
     É importante realçar, como se pode ver pelos documentos da época, nomeadamente nas Tribulações de Samuel Usque, que estes homens e mulheres, apesar de todas as provações por que passaram, mantêm sempre um carinho espantoso pela pátria que os viu nascer e pela língua materna. Samuel Usque fazia questão de escrever em Português, dizendo que não podia negar a "língua que mamou". A expressão é única e só encontra paralelo em Fernando Pessoa.
      A Corda de Judas Iscariotes antecipa-se a este debate e coloca a questão da nacionalidade em sentido oposto. José Mendes, depois de descobrir que é "anussim", por outras palavras, oriundo de uma família de judeus marranos obrigados à conversão, é recebido no seio da comunidade judaica de Esmirna. Trata-se de uma admissão no seio de uma comunidade religiosa. A questão agora é também de ordem política: têm estes judeus direito à nacionalidade? A pergunta é muito simples, existe nacionalidade sem um passado étnico, cultural e linguístico? Sabemos que, pela política e pela economia, basta um indivíduo dar dois pontapés numa bola para conseguir a nacionalidade portuguesa, ficamos mais ricos por isso? Restabelecemos a paz e matamos os fantasmas do passado?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Reaquisição da nacionalidade portuguesa pelos judeus sefarditas

Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República
Considerando que:
(a) Fui abordado por representantes da comunidade de judeus sefarditas, residentes no estrangeiro, que desejam poder recuperar a nacionalidade portuguesa que foi a de seus antepassados.
(b) Os judeus sefarditas foram expulsos de Portugal ou forçados ao exílio a partir das perseguições de finais do século XV, continuando a considerar-se e a referir-se a si mesmos como “judeus portugueses” ou “judeus da Nação portuguesa”.
(c) Presentemente, constituem um grupo pequeno, tendo alguns membros cidadania israelita, sendo que a maioria vive no Brasil na maior parte do tempo e correspondendo quase todos a indivíduos com educação de nível superior, em geral profissionais liberais e que, na maioria, falam mais do que o português.
(d) Há muitos judeus sefarditas que aspiram a recuperar a nacionalidade portuguesa, de que se encontram privados mercê da expulsão e/ou exílio forçado dos seus antepassados.
(e) A Espanha – que fez expulsões similares às ocorridas em Portugal – já adoptou legislação, desde 1982, que permite a naturalização dos judeus sefarditas de origem espanhola ao fim de dois anos de residência em Espanha, à semelhança da norma aplicável a um conjunto limitidado de origens específicas. E, em 2008, adoptou a possibilidade por “carta de natureza” e atribuiu a nacionalidade espanhola, independentemente de residência, a judeus sefarditas, mercê unicamente de um conjunto de indicadores objectivos (apelidos, idioma familiar) e competente certificação pelo rabino da comunidade.
(f) Os judeus sefarditas interessados em recuperar a nacionalidade portuguesa sublinham que outros países, como a Grécia, já adoptaram legislação de reaquisição de nacionalidade por judeus expulsos e seus descendentes e que a própria Alemanha o fez, face à tragédia mais recente.
(g) Portugal é dos poucos países, senão o único, que não dispõe de normas para reaquisição de nacionalidade pelos descendentes de judeus expulsos.
Assim, tendo presente as normas constitucionais e regimentais aplicáveis,
O Deputado do CDS-PP, abaixo-assinado, vem por este meio requerer ao Ministro da Justiça e ao Ministro da Administração Interna, por intermédio de Vossa Excelência, nos termos e fundamentos que antecedem, a resposta às seguintes perguntas:

1. Tem conhecimento da situação e desta aspiração dos judeus sefarditas de origem portuguesa?
2. Considera que é possível atender a sua pretensão de reaquisição da nacionalidade portuguesa, no quadro da lei e da regulamentação vigentes? Por que modo?
3. Não havendo legislação vigente que possa satisfazer a aspiração dos judeus sefarditas de origem portuguesa, está aberto a que possa ser adoptada proximamente? Concorda nomeadamente com a adopção em Portugal de um regime de naturalização dos judeus sefarditas originários de Portugal simlar ao que já vigora na vizinha Espanha?
Palácio de São Bento, 10 de Maio de 2010
O deputado:
José Ribeiro e Castro

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Cimetière Israélite de Veyrier

      Não se pode dizer que a Corda de Judas Iscariotes seja um romance de cemitérios. Nada disso, antes pelo contrário. Os cemitérios nesta obra estão perfeitamente enquadrados ao serviço da narrativa. Um dos cemitérios aqui referenciados mais simbólico é o de Veyrier, em Genebra, na medida em que se encontra situado em dois territórios distintos, o francês e o suíço. A linha fronteiriça passa por entre os túmulos e o local pode trazer alguns inconvenientes aos visitantes em termos burocráticos, perdoem os nossos amigos judeus o humor negro, duvidamos que os traga aos residentes.
       O local merece todo o respeito não só pela função que desempenha de enterrar os mortos, mas principalmente por ter ajudado a salvar muitos vivos da perseguição nazi. Aviso desde já os leitores que, em caso de curiosidade em visitar o local, não devem transportar objectos susceptíveis de declaração aduaneira, conforme consta do aviso. Pergunta-se se para os vivos se também para os mortos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O Sexo

    Perguntarão alguns se há lugar ao sexo na Corda de Judas Isacriotes. A resposta é afirmativa. Sexo e bom sexo. Melhor dizendo, uma perspectiva diferente do sexo, num encontro de religiões e de culturas onde todos ficam a ganhar quando olhamos o outros com tolerância e com reconhecimento pelos valores que cada um tem.
    Se tem curiosidade sobre as implicações da circuncisão nas relações sexuais, se tem curiosidade sobre a importância da virgindade, do estado de pureza e de impureza entre as mulheres judias, então a leitura deste romance pode tornar-se numa agradável surpresa na forma como estes temas foram vistos sem preconceitos, procurando descobrir como o amor por tornar conciliável tudo aquilo que, à partida, poderia ser um impedimento.
    Na imagem podemos observar um moderno "micvê", lugar onde a mulher retoma o seu estado de pureza, após qualquer derramamento de sangue pela vagina.