Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



quinta-feira, 30 de junho de 2011

Um caso angélico

   Não pode haver maior castigo por qualquer erro que se cometa do que a morte, chega a ser uma evidência idiota. Está, por isso mesmo, excluída qualquer crítica a um jovem que morre de forma tão trágica. Respeito ao homem e paz à sua alma.
   Mas voltemo-nos para os vivos e para aqueles que nos vendem notícias todos os dias. Basta de meias palavras e factos repetidos à exaustão. Este caso não foi nada angélico, este é mais um acidente típico da imprudência e daquilo que o heroi verdadeiro não está autorizado a fazer. O heroi verdadeiro não vive acima da lei como qualquer "monarcazinho" medieval que pode fazer tudo o que quer e continua a ser idolatrado pelos súbditos.
    E a Comuniação Social, que é cúmplice destes ídolos de plástico, passa um pano sobre o assunto; fosse outra pessoa e não imagino o que diria das consequências de se conduzir sem seguro, de se conduzir sem cinto de segurança e, ainda não me explicaram, que velocidades são essas que fazem rebentar pneus daquele tipo, imagino que muito para cima de 200 Km por hora.   
    E se fosse mais uma caso de romance, paixoneta e coisa e tal, quantas revistas a falar do caso; mas duma jovem, acrescento, duma menor, que também corre sérios riscos de vida, népias, pelo menos não ouvi falar. Não sou apreciador de determinadas músicas e determinados actores, por isso, a minha caridade cristã vai de igual modo para todos os que fatidicamente ali morreram ou sofrem.
    O caso, portanto, não é nada angélico, e a Comunicação Social quer fazer de nós anjinhos. Nós sabemos que são da casa, são eles que fazem as audiências, mas a pouca vergonha tem limites, era bom que uma verdadeira Autoridade para a Comunicação Social metesse esta gente na linha. Este caso, a fazer memória séria e verdadeira sobre o sangue derramado pelo  Angélico, deveria servir de exemplo para os jovens perceberem que os ídolos, como qualquer ídolo, tem pés de barro e, se os devemos copiar nas virtudes, deveríamos também recusá-los nos seus defeitos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Conde da Vidigueira nas provas do 9º ano

       Vieira correspondeu-se com o Conde da Vidigueira, sim, da Vidigueira, pelo menos no séc. XVII era assim que o Padre António Vieira tratava o Marquês de Nisa e a Condessa da Vidigueira nas cartas. Marquês de Nisa ou Conde da Vidigueira, um descendente do Conde de Vidigueira, sim,  de Vidigueira, à moda de Saramago, e que veio a lume no exame nacional do 9º ano.
       É mais um dos achados, não o Achado, da Caverna, que esse aprecio particularmente, mas um dos achados de Saramago e que, de repente, como passe de mágica do Acordo, entram na norma. Espero, sinceramente, que não sejam penalizados os alunos que teimem em identificar a personagem como o Conde da Vidigueira, esquecendo-se, em bom saramaguês, do conde de Vidigueira.

     E já agora, a talho de foice, o texto até pode ser que fique bem no contexto geral da prova, mas para mim é duma pobreza franciscana que dá dó, não resisto à tentação de o dizer.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Será desta?

       Tenho evitado falar aqui das questões da educação, ninguém é profeta na sua terra. Mas não resisti a dar uma opinião para memória futura acerca daquilo que gostaria de ver e penso, quatro coisinhas muito simples.
        Aí vai aquilo que, para mim, seriam bons sinais:
      1º Rigor na avaliação a começar por cima, quando digo por cima, todo o ensino superior. O episódio dos candidatos a juízes foi lastimável, comparado com o rigor, a alta segurança imposta a 12 criancinhas numa sala, vigiadas por dois adultos, depois de lidas uma série de páginas de avertências para uma simples prova de aferição. Senhor Ministro, acabe de vez com estas situações ridículas. O meu avô, e julgo que também o avô de V. Excia, era muito entendido nestas matérias e disse sempre, ao meu pai, e julgo que também terão dito ao pai de V. Excia, que o exemplo vem sempre de cima. Não lavemos mais roupa suja, mas paremos de vez com este chavão de que tudo tem que começar no Jardim de Infância, tretas...
      2º Confiança e autonomia nos professores, ou sabem ensinar e avaliar ou não sabem. Se sabem, confie-se na avaliação feita por eles. Os exames não servem para nada, por outras palavras, dispense-se de exame o aluno que teve um percurso normal, sujeite-se a exame nacional todo o aluno que não foi cumpridor. O país não precisa de gastar milhões a sujeitar toda a gente a exames. Basta que o Ministério, para uma observação interna, realize um sorteio de escolas, do ensino oficial e do ensino particular, com equipas de avalaição externa, destinadas a ver de que forma a avaliação interna está de acordo com uma valiação externa. É urgente acabar com os boatos dos colégios destinados a receber meninos que querem seguir medicina.
       3º Disciplina. As medidas disciplinares não podem dizer respeito unicamente ao aluno, tem de haver um conjunto de medidas disciplinares muito concretas que responsabilizem o encarregado de educação. Se isso não acontecer, não haja ilusões, é impossível aplicar medidas disciplinares a um aluno que tem como principal aliado no comportamento indisciplinar o respectivo encarregado de educação.
         4º e último, fim das reprovações. Não há dinheiro para pagar reprovações dos alunos. Dois certificados de habilitações no final de cada ciclo, A e B, conforme o aluno tenha cumprido o respectivo ciclo com sucesso ou unicamente com frequência. No 12º ano, ficando só com um certificado de frequência, o aluno só poderia prosseguir estudos depois de ser sujeito a exames nacionais. É evidente que estas medidas são incompatíveis com certificação das novas oportunidades. Em qualquer fim de ciclo, o aluno pode sempre, através de exames nacionais, passar do cretificado B para o A.
       Para mim basta, o resto é nevoeiro, e o que é preciso é clareza e transparência.
       

terça-feira, 21 de junho de 2011

Somos menos, felizmente

      Li recentemente, na revista Tempo Livre , uma das muitas crónicas que o senhor Fernando Dacosta costuma escrever. Quando digo costuma, quero dizer que não é a primeira vez e, portanto, esta é uma resposta isolada e nada tem a ver com a pessoa que a escreve, cada um é livre de pensar o que quer, mas com o autor pontual da crónica e do veículo destas ideias, no caso uma revista pública da responsabilidade do INATEL.

     O artigo, tenho de confessá-lo, é perigoso, diria mesmo de terrorismo de estado. Este senhor, um ancião respeitável, no momento da vida em que devia olhar para o mundo que o rodeia como um lugar de vida e de felicidade, atrever-me-ia a dizer como um tesouro sempre mais enriquecido para legar às gerações futuras, não… egoisticamente deseja que cada vez seja menor o número daqueles que um dia possam usufruir de um dom tão simples como o da vida.

      Chega a parecer monstruoso, e pergunto como é possível que seja publicado um texto que afirma, passo a citar: “Vamos ser, em 2100, apenas 6,7 milhões de portugueses (a mesma população de 1920), catastrofizam demógrafos. E daí? Quererão mais jovens para somar aos que deambulam sem ocupação, sem saída, sem futuro? mais jovens a viver dos pais e avós (que no final da vida têm de subtrair ás cada vez mais subtraídas pensões o seu sustento?); mais jovens para largar o mercado dos prostitutos, dos delinquentes, dos drogados, dos excluídos? Não lhes chegam as centenas de crianças a dormir nas ruas de Lisboa? Nãos lhes bastam os milhares de adolescentes a procurar, em vão, o primeiro emprego?”

     A lista de aberrações, pois não conheço outro termo, é tal que só podemos ficar perplexos, praticamente sem palavras, tal a distorção deste raciocínio. Como é possível que uma instituição como o INATEL não tenha uma palavrinha de contenção para afirmações destas que só podem ter desculpa na senilidade, tal o número das imprecisões, desde gralhas de ortografia a afirmações que só uma intenção ficcional poderia tolerar, mas não acho que assim seja. Este pensamento é dum egoísmo atroz e, perante uma visão do mundo tão radical, só me ocorre uma resposta com a mesma radicalidade. Para o senhor Fernando Dacosta, é preferível não nascer a ser prostituto, drogado ou delinquente; para o senhor Fernando Dacosta é preferível não nascer a não ter um futuro na vida ou viver na dependência dos pais e dos avós; para o senhor Fernando da Costa é preferível ser um aborto a ser uma criança a dormir nas ruas de Lisboa; não respondo à última premissa, pois o trabalho dos adolescentes ainda é considerado trabalho infantil e nem imagina aquilo que está a escrever. Este senhor, pode dizer-se, tem ódio à vida. Parte do princípio de que, todos aqueles que não são prostitutos, têm emprego, não são delinquentes, são felizes e o mundo, através deles, fica melhor. Não, meu caro amigo, fica muito pior, e ainda muito pior com pessoas que pensam como o senhor. Não queria ser inconveniente, mas tenho que lhe dizer que o mundo não precisa nada do seu pensamento, pois nunca me atreveria a dizer que não precisa do senhor para nada.

     Eu sei donde vem esta forma de pensar, o último parágrafo descobre a máscara: “Semelhantes posturas levam a apontar como causa dos problemas o que são - despenalização do aborto, uso do preservativo, legalização do divórcio e do casamento homossexual-. consequência deles. As conquistas que representam não constituem ataques à família tradicional, mas mudanças ao seu paradigma, isto é, possibilidades para cada um escolher modelos de afectuosidade mais ajustados a si - o que significa um acentuado enriquecimento civilizacional”. Só não imagina onde quer chegar quem é burro. Mas ainda bem que os senhores, de vez em quando, deixam fugir a boca para a verdade e são as verdades que precisam de ouvir. O seu avanço civilizacional é o “Não à Vida Humana”, é assim que tem que ser dito com as letras todas. E isto em nome duns direitos que escolheram como bandeira para mostrar que existem, caso contrário, não teriam nada que dizer ao mundo que não estivesse já dito há muitos milhares de anos. Esse é o vosso problema. Termino só com um pequeno pormenor que me dá todo o direito de dizer o que digo. Sabe, senhor Fernando Dacosta, é com textos como o seu que eu cada vez mais tenho orgulho na Igreja a que pertenço, pois tenho a certeza que em lado algum alguém se atreveria a dizer que o mundo ficará pior se continuarem a nascer homossexuais, abortadeiras, prostitutas e pedófilos.

Tempo Livre, Junho 2011, nº 227, p. 82

domingo, 19 de junho de 2011

O novo

    Confesso que sempre gostei do "novo". Não é que tenha nada contra o velho, antes pelo contrário. Talvez passe a maior parte do meu tempo a bisbilhotar o velho. Mas pronto, nunca me deu para velharias; não aprecio carros velhos. Preferi sempre o novo, de preferência cheio de coisas e coisinhas novas, vidros a subir e a descer, pipis de estacionamento para a frente e para trás. Como dizia o outro senhor, um venerável velho, gosto mais dos "pelinhos" destas novidades. São gostos e os gostos não se discutem.
    E tudo isto propósito do novo governo, que parece ser mesmo novo. Pois... e a gente fica a pensar, mas gosta. Agora o problema, sejamos francos, são os perigos que isto acarreta. Sempre gostei de correr o risco do novo, é certo. Às vezes sai o tiro errado, são os vidros que não sobem, os sensores que deixaram de fazer pipi e, puuuuuuummm, paga. Faço votos, aliás, a minha carteira faz votos para que, com este novo, não precisemos nós todos de termos de ir para a garagem mais cedo. Realmente a máquina parece querer apresentar-se à primeira vista como um moderno compacto, recheado de alta tecnologia. Parece que muita dela não veio da China, veio da América, parece ainda mais fiável, no entanto o Chevrolet já não é o que era.
    Fico a aguardar, mas desde já gostaria de testar particularmente algumas das peças essenciais da nova máquina. Em primeiro lugar os travões, derrapagens serão fatais. Depois os airbags e os cintos, a idade já não me permite brincar com a falta de segurança. Por fim, e para terminar, os farois. Não sei por que razão, detesto o Xénon. Essa é das poucas modernices de que não gosto. Quando vejo umas trombas à minha frente de Xénon fico pior que estragado. De dia, vá que não vá, lembra cagança; mas de noite incomoda mesmo. Preferia sinceramente aquelas lâmpadas horríveis, amarelas, de antigamente, que diziam logo que era um carro francês. Deixo, por isso, o meu pedido. Novo, sim, mas Xénon, não; para Dona Elvira de Xénon já nos bastou estes últimos seis anos.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Recensão de José Eduardo Franco

A Corda de Judas Iscariotes: O Quinto Império do Mundo, Carlos Maduro, Lisboa, Fonte da Palavra, 2010.

     A Corda de Judas Iscariotes: O Quinto Império do Mundo da autoria de Carlos Maduro (Lisboa, Fonte da Palavra, 2010) é o romance de estreia do investigador Carlos Maduro nas lides da criação literária, pois no mundo da história e da crítica literária já tem provas dadas. Com efeito, o autor tem-se revelado como estudioso de Vieira, tendo concluído uma tese de doutoramento inovadora sobre a epistolografia do grande pregador jesuíta do tempo do barroco e, presentemente, está a coordenar uma nova edição global das cartas vieirianas com documentos novos e acertos em relação à clássica edição de João Lúcio de Azevedo. É, portanto, um bom conhecedor dos arquivos e do discurso epistolográfico de Seiscentos, beneficiando este romance em muito deste seu conhecimento.

     Estamos diante de um romance verdadeiramente notável que esperamos possa iniciar uma nova tradição, ou pelo menos, um novo subgénero no âmbito da criação literária e que venha para ficar.

    Trata-se do que podemos chamar um romance cultural e pedagógico muito útil para reviver e revisitar factos, acontecimentos, mentalidades do nosso passado estabelecendo a sua ligação subterrânea com o presente, surpreendendo continuidades que ainda subsistem contemporaneamente.

     Vários temas, várias problemáticas, vários cenários e tempos históricos são aqui cruzados, interceptados, interligados e colocados em diálogo funcional para abrir uma extraordinária janela de conhecimento e de compreensão vivencial dos contextos e dos tempos históricos em contraponto. Diásporas dos judeus sefarditas na sequência da intolerância ibérica na modernidade e das perseguições da inquisição, a onda de euforia messiânica, finimundista e profética que nos século XVI e XVII atravessou transversalmente tanto o cristianismo, como o judaísmo e até o islamismo.

     O tempo do Padre António Vieira, os judeus da diáspora portuguesa jogados pela inquisição para a Holanda e outras paragens menos intolerantes, o diálogo com as comunidades judaicas sensíveis a expectativas messiânicas periodicamente excitadas por esperanças eufóricas em torno de datas e figuras que se sucedem no jogo dramático das interpretações. Assim como no século XVI e XVII, na sucessão de datas finimundistas e de messias malogrados, marcados com desilusões, por vezes, trágicas pessoas e comunidades inteiras, também no nosso tempo o romance encena a subsistência de pequenos redutos de judeus sefarditas que mantêm a esperança expressa em práticas rituais e iniciáticas de carácter messiânico, esperando o dia da glória de Israel.

     É nesta paleta sobreposta de épocas e figuras históricas que se tece o enredo e uma belíssima e apaixonante história de amor entre dois estudantes de Relações Internacionais em Genebra: uma judia, filha de uma poderosa família hebraica holandesa descendentes dos judeus portugueses, e um estudante português de trás-os-montes, que veio a descobrir-se de sangue cristão-novo judeu. Apesar de acabar em tragédia devido a mais um não vingar da esperança projectada em Ester Cardoso noiva de José Mendes, que se tornou alvo de mais uma expectativa gorada de vir a ser mãe do messias que está para vir, o enredo permite ao romancista, na sucessão alternada de capítulos que põem em confronto tempos e contextos históricos diferentes, de explicar com uma extraordinária aparelhagem de informação os trajectos dramáticos do cripto-judaísmo e da diáspora judia em consequência da intolerância portuguesa e espanhola aplicada inquisitoriamente.

     Sendo o autor do livro professor e investigador, oferece ao longo do enredo uma espécie de visita guiada ao mundo secreto, íntimo, familiar das práticas judaicas e ao património simbólico do judaísmo resistente a todas as perseguições históricas, onde a parte da corda de Judas deixada em Portugal ganha especial relevo.

     É um romance que se lê com atenção e tensão crescente, oferecendo ao leitor um desfecho surpreendente. Beneficia-se desta leitura não só pelo prazer de contactar com uma apaixonante história de amor interceptado com muitas outras pequenas histórias de judeus e cristãos que se cruzam nos caminhos da vida e das esperanças que os fazem mais parecidos do que émulos. De algum modo, esta obra permite revisitar Vieira e compreender o seu sonho/projecto de entendimento/acolhimento dos judeus no seio das sociedades católicas, consubstanciados na sua utopia do Quinto Império. A possibilidade de quebrar as fronteiras das raças, tradições e religiões que dividem a humanidade e têm impedido um convívio pacífico entre modelos de vida, de crença e de pensamento diferentes é uma utopia que moveu grandes homens do passado e do presente, projectando um mundo novo. Esta obra faz de algum modo uma homenagem aos que acreditaram e labutaram contra a intolerância altamente devastadora e predadora dos ideais de fraternidade entre os homens.
 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O dia da Troika

     Proponho o dia 10 de Junho como o primeiro feriado a ser retirado em memória da Troika. Por outras palavras, um feriado a ser suspenso até que voltemos a ser soberanos e nação livre de humilhações. É ridículo que um país faça a celebração duma independência e duma nacionalidade que lhe foi parcialmente amputada.
    Não duvido que Camões, lá em qualquer céu etéreo onde se encontre, vai encarar esta ideia com a maior das simpatias e até nos manda um piscadela de olho, piscadela não, pois ficaria com os olhos fechados, em sinal de aprovação.
      Que me importa a mim que se fale de dia da raça ou dia das comunidades, se a TV, logo a seguir, passa programas onde os nossos compatriotas afirmam que tão cedo não pensam cá pôr os pés; e os que cá estão, falo particularmente dos mais jovens, só pensam em pôr-se ao fresco. Dia da raça, ou dia do "pisga-te enquanto é tempo"; dia das comunidades, ou dia o "fisga-se que nunca mais lá volto". Que me importa a mim que seja o dia de "Camões" se até o Primeiro Ministro demissionário vai para Paris estudar Francês e Filosofia, quando para ele bastavam Lusíadas somente.
Parafraseando o Poeta, e como prova de que bastaria conhecer o Poeta para não precisar de porcaria de Filosofia nenhuma, ainda por cima vinda de Paris, cito:

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso dos meus anos;
Dei causa a que a fortuna castigasse
As minhas mais fundadas esperanças.

De amor não vi se não breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!"


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube

    A imagem é emblemática e é um lugar comum para quem dá um passeio pelo centro de Frankfurt. Mesmo ali ao lado dos senhores que mandam uns trocos para o reino dos mercedes, audis e BMW's, os pobres servos do capitalismo alemão movimentam-se de bicla. 
    Num pequeno intervalo de mudança de avião do movimentado aeroporto de Frankfurt, é muito aconselhável fazer uma visita ao centro desta simpática cidade, quanto mais não seja como exercício de caridade para com este pobre povo que continua, em pleno século XXI, a ter que dar à perna para ganhar a vida, ou simplesmente dar uma curva.
     E não se pense que eles, lá por viverem na terra do capital, andam de bicla Trek. Para mim, eu cá gosto mesmo é da Trek 6.9 Madone SSL. Só de lhe ver os atributos até me dá o treco, imaginem só um Quadro: OCLV 55/ HM em Carbono; uma Forqueta: Bontrager Race X Lite, em carbono; uma  Caixa direcção: Cane Creek S-8, rolamentos sela dos; Travão dianteiro & traseiro: Shimano Dura-Ace; Manetes travão: Shimano Dura-Ace STI;  Desvia dor dianteiro: Shimano Dura-Ace; Desviador traseiro: Shimano Dura-Ace; Manípulos mudanças: Shimano Dura-Ace  STI , (10veloc.); Cassete: Shimano Dura-Ace 12-25, (10 veloc.); Pedaleira: Shimano Dura-Ace 53/39; Pedais: N/D; Aros: Bontrager Race XXX Lite em Carbono Clincher, pistas de travagem maquinadas; Pneu dianteiro: Bontrager Race X Lite, 700x23c; Pneu traseiro: Bontrager Race X Lite, 700x23c; Selim: Bontrager Race X Lit e Pro; Espigão selim: Bontrager Race X Lite em Carbono. Preço: €8 350,00. E digam agora se um português não pode ser feliz montado numa coisa destas? Há crise que resista à felicidade ter uma coisa importada destas?
        Mas eles não, aqueles coitados, o modelo mais usado é aquele a que vulgarmente, na minha terra, chamamos reca. Reca em todos os sentidos, no modelo e na aparência, ou não estivessem também as pobres coitadas sujeitas às impertinências intestinais da passarada. Recas e mais recas, que parece ninguém querer roubar talvez pelo facto de serem recas.
     E é isto, os alemães andam nisto. Pobre povo, sujeito ao peso dos pedais que ruidosamente puxam uns largos Kilos de aço, uma ou outra roda de alumínio e pouco mais. Ficamos indignados e pergunta-se: aqueles gajos ainda não descobriram as ligas de carbono? Miseráveis, pobretanas, que venham cá, sim, venham cá, que deem uma voltinha ao Domingo pela Foz e vejam o que são biclas a sério. Eu, sinceramente, até tinha vergonha de ser alemão.   
    Por isso, se tem uma bicla de gente, que se apresente, está deste já convidado para mais raid em BTT no Paraíso da Foz.