Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



domingo, 22 de abril de 2012

O Caçador de Elefantes

     
      Acho as recentes críticas ao rei Juan Carlos de Espanha muito injustas. Na verdade, só uma ignorância muito grande nestas coisas de sangue a azul é que não permite entender que o gosto pela caça corre-lhes nas veias.
     Não conheço os reis todos, longe disso, mas ocorre-me vagamente que todos eles, mais aqui, ou mais ali, todos tinham por preceito dar a sua caçada e a sua montadela. E diga-se ainda, em abono da verdade, que os reis e demais candidatos também nunca foram de grandes cerimónias quando se trata da caça. A nossa História, naquela parte que melhor conheço, está recheada de referências às caçadas dos nossos reis na famosa corte de Salvaterra, lá para os lados de Santarém. Ele eram tordos e codornizes, coelhos e perdizes, veados e javalis, e outras bicharadas munidas ou não de cornos. E não duvido que os nossos monarcas, se acaso também tivessem pisado as terras africanas, não pensariam duas vezes antes de mandar um tirinho na primeira tromba que lhes aparecesse pela frente.
Concluindo, e sendo a monarquia uma instituição que muito procura conservar as tradições que os nossos antepassados nos legaram, é como querer um jardim sem flores exigir que os reis, ou eventuais candidatos a reis, fiquem proibidos de dar ao gatilho. Muito sinceramente, acho de devemos deixar os indivíduos estoirar à vontade, com um bocadinho de compreensão de ambas as partes, até que bem podiam estoirar para o ar e com pólvora seca.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Os limites da democracia e da justiça

Sempre estive convencido de que Democracia e Justiça formam uma só palavra. A grande dúvida está em saber até podem ir os limites da ambas. E, muito sinceramente, o triste espetáculo que a Noruega está a dar no julgamento dum indíviduo, de que nem tão pouco fixei o nome, deveria dar espaço para uma ampla reflexão acerca dos limites da Democracia e da Justiça.
Mas parece não haver vontade em fazê-lo. Quem sou eu para o explicar, mas nada impede, em nome dessa mesma democracia, que possa expor aquilo que penso. Mesmo que isso, futuramente, me pudesse impedir de aceder a cargos que o mesmo regime democrático me impusesse, como por exemplo, jurado num tribunal.
Então, na minha modesta opinião, a democracia deveria ter os seus limites no momento em que determinados cidadãos sobrevivem à custa da democracia e da justiça. Só assim consigo entender que um tribunal não encontre meios para proibir que um monstro, um atrasado mental, um extremista, o que queiram chamar, continue a causa os maiores danos que se podem imaginar nos familiares de 70 vítimas.
Quando já não há leis que consigam proibir que isto aconteça, então o regime democrático e a justiça já não pertencem ao povo, mas às universidades, às ordens, às associações e às disciplinas de voto dos parlamentos.

terça-feira, 10 de abril de 2012

"Àquele a quem muito se deu, muito será pedido"

      Acho que a citação do Evagelho de Lucas 12,48 encaixa que nem uma luva ao senhor Dr. Mário Soares.
     Passo à exegese: "Àquele a quem muito se deu". Na verdade, até prova em contrário, ainda não sei muito bem o que o dito senhor me deu, mas sei com toda a certeza aquilo que lhe estou a dar. Vejamos, carro, motorista, quase de certeza combustível, ah!!!! já me esquecia, se calhar portagens e, pasme-se, pago-lhe as multas. Que quer o nosso ex-presidente que lhe pague mais, a biquinha na estação de serviço ou uma mijinha se o urinol também for a pagar?
     Já não há paciência depois de esgotados os direitos adquiridos!!! E passo à exegese de Lc. 12, 48, "muito será pedido."  E creia-me, senhor doutor Mário Soares, que vou ser muito comedido nos meus pedidos para tão beliscar os sacossantos direitos estabelecidos nas leis, que o senhor e os seus amigos fizeram para se recompensarem. Muito sinceramente, penso no seu motorista, o mexilhão que mais uma vez ficou entalado, com a carta apreendida. Aceitemos, deveria ter desobedecido a Vossa Excelência; e vá que não vá, pague a multa o zé pacóvio que não vai ficar mais pobre por causa disso. Agora, pergunto, muito será pedido se Vossa Ilustre Senhoria ficar sem motorista e sem automóvel do estado durante o tempo da apreensão da carta?
     Julgo que não e, aqui para nós, talvez dê para pagar a multa ou mais qualquer coisinha para ajudar o zé pacóvio a pagar a crise.

sábado, 7 de abril de 2012

As artes do não-poder. Cartas de Viera um paradigma da retórica epistolar do barroco


PREÂMBULO

O aturado trabalho de investigação conduzido por Carlos Maduro, no horizonte do epistolário de António Vieira, expressa uma contribuição decisiva para a atualização do estado da questão, com vista a uma futura edição crítica das Cartas do grande jesuíta.
Partindo do meritório esforço de João Lúcio de Azevedo, que entre 1925 e 1928 publicou três grossos tomos com 710 cartas de Vieira, naquela que é, até agora, a edição mais exustiva do longo epistolário de Vieira, Carlos Maduro alarga muito o âmbito da investigação, tendo por base não só a bibliografia publicada depois dessa data, permitindo-lhe identificar mais setenta e cinco cartas não incluídas na edição de Lúcio de Azevedo, como também por via da investigação nos fundos das nossas bibliotecas, que lhe deram o conhecimento minucioso desta face tão cativante da vida e obra de Vieira.
Nesta conformidade, o estudo de Carlos Maduro é o que até ao momento parte de uma base mais alargada do epistolário vieirino e o que, como tal, nos permite aceder a uma perspetiva mais completa das Cartas, oferecendo-nos não apenas a novidade da sua interpretação no âmbito da prática discursiva e da teoria epistolar do barroco, como também um mais pormenorizado e completo conhecimento do corpus textual.
Tratando-se de uma tese de doutoramento, não será de estranhar que as exigências do método o obriguem a uma dilucidação da tradição epistolar na cultura ocidental, de que Vieira foi por essa via parte ativa, situando a análise não tanto na perspetiva mais tradicional e comum de fonte documental para reconstrução da biografia de Vieira ou como elemento auxiliar para o estudo da sua produção literária. Surgem por isso as cartas estudadas como «paradigma da retórica epistolar do barroco», atendendo, por isso, às tão ricas como complexas questões da arte retórica, atinentes à inventio, exordio,  dispositio, lugares, narração , estilos e fins.
Mas para lá destes aspetos mais técnicos da análise da epistolografia de António Vieira, é também através dela que nos deparamos com a dimensão do seu autor como homem do mundo, com o seu cosmopolitismo, a sua rede de relações corporizada num rico e influente universo de destinatários, a riqueza intelectual manifestada nas fontes da inventio, a que acresce o interessante capítulo dedicado à dilucidação e interpretação das metáforas utilizadas por Vieira na sua escrita, traduzindo a peculiar experiência de homo viator, tantas vezes retirada da vivência da viagem marítima, da tempestada e do confronto com a «natureza dificultussíssima».
Por outro lado, a interpretação e análise das Cartas que aqui nos é dada permite também ao leitor o estabelecimento de interessantes pontos de contacto com o pensamento de Vieira e com os temas mais candentes da sua vasta obra, expressos também nos Sermões e obras proféticas. Aqui nos deparamos com o Vieira político e diplomata, seduzido com os jogos da diplomacia europeia e com a estratégia das guerras intestinas que assolavam a Europa, «sem cabeça nem união»; com o Vieira perseguido pelo Tribunal do Santo Ofício, o qual, como dizia, sendo santo pelo nome não assegurava a santidade nem a ciência aos seus juízes; pelas Cartas vemos também a sua conceção do mundo como teatro e da vida como comédia, no qual havia que representar um papel digno, com a arte e o engenho para lidar com a suspensão e a expectação; é também o Vieira seduzido pelo imaginário barroco e pelo maravilhoso cristão, tão afeito à interpretação de prodígios e presságios astrológicos, nomeadamente os que se articulavam com a interpretação do significado astrológico dos cometas, a que tanto se dedicou, sem, enfim, esquecer o Vieira visionário, o Vieira humanista, defensor da dignidade dos povos descobertos e escravizados sem título legítimo e em guerra injusta, pois que em matérias tão relavantes como as da soberania e da liberdade, colocava no mesmo plano a coroa de ouro e a coroa de penas, e como finalidade principal do império a evangelização e o ius praedicandi.