Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



domingo, 28 de março de 2010

Sabbatai Zevi

Somos por vezes levados a pensar que o movimento milenarista associado ao Quinto Império e ao sebastianismo é uma exclusividade dos cristãos ou mesmo dos portugueses. Inclusive, nos diversos trabalhos académicos, poucas vezes se alarga esta perspectiva aos outros povos e culturas, particularmente ao Judaísmo. "A corda de Judas Iscariotes", a seu modo, julgo que estabelece uma ligação muito pertinente entre o Sebastianismo e a Sabatianismo. 
O Sabatianismo, se assim o quisermos chamar, aportuguesando o termo, nasce com Sabbatai Zevi, o ps-Messias e cabalista, nascido em Esmirna em  mês incero de 1626, tendo morrido, segundo alguns, no dia 30 de setembro de 1676, algures na Albânia. Também ele tem antepassados que vieram da Espanha, fugidos de Veneza aquando da guerra com o Império Turco.
Aluno ao que parece do famoso rabino Joseph Escapa, deizem alguns documentos que Zevi teria demonstrado mais entusiasmo pelo estudo da cabala e do misticismo judaico de Isaac Luria que propriamente pelo Talmud.  Como acontece na generalidade das religiões, a ortodoxia da lei é normalmente adversa aos exageros. Da mesma forma que os misticismos acabam por apelar a comportamentos muito idênticos, independentemente da religião de cada um: mortificação do corpo, experiências de comunicação com a divindade, dons da profecia, realização de milagres. No caso de Zevi, estas experiências passavam por práticas tão diferentes e tão próximas como viver em castidade com as esposas, viver longos jejuns ou banhar-se no mar, mesmo em pleno Inverno.  
É, portanto nesnte contexto que deve entender-se todo o movimento extraordinário que Zevi lançou pela Europa de Leste e Próximo Oriente. Movimento esse que muitos estudiosos associam a um milenarismo inglês, surgido na primeira metade do séc. XVII. Na verdade, se os nossos trabalhos sobre este assunto pecam pelo desconhecimento do que se passou além fronteiras; também não é menos verdade que uma certa sobranceria anglo-saxónica ao ignorar o milenarismo português é também ela lamentável. Como vimos anteriormente, Menassés Ben-Israel contactou de muito próximo o Padre António Vieira, e o movimento chega efectivamente à Inglaterra pelas mãos de Menassés, como se prova pela carta que ele enviou a Cromwell e ao Parlamento Inglês, onde estava convicto de que, com a aproximação do ano de 1666, dar-se-ia a redenção de Isarael, com o retorno a Jerusalém e a reunião das tribos perdidas de Israel. Dizem alguns que o pai de Zevi, que tinha contactos com comerciantes, terá falado ao filho destas maravilhas. Seria possível, mas não era o único caminho. O Pe António Vieira falava abertamente desta possibilidade, os autores judeus portugueses, como Samuel Usque, publicavam tratados em Língua Portuguesa sobre o assunto. Poder-se-ia dizer que à Inglaterra chegavam ecos dum pensamento e dum movimento tipicamente sefardita.  

segunda-feira, 22 de março de 2010

Abraão Miguel Cardozo

Miguel Cardozo nasceu no seio de uma família marrana de Medina de Rio Seco, em Espanha, em 1627. O percurso deste homem pelo Mediterrâneo é a todos os níveis admirável e pode ser conhecido através do livro de Davida Joel Halperin, Abraham Miguel Cardozo.

A este nome é também associável o nome do irmão, Fernando Cardozo, médico famoso do Judaísmo sefardita, mas também figura assinalável da ortodoxia ligada ao culto da Sinagoga. Talvez esse o motivo primeiro pelo qual estes dois irmãos, depois de em 1648 retomarem o Judaísmo em Veneza, respectivamente com os nomes de Isaac e Abraão, venham a seguir caminhos distintos. Fernando na criação de uma comunidade judaica repeitável em terras da Península Itálica e Miguel numa autêntica diáspora pelo Mediterrâneo. Em 1650, teria andado pelo Egipto, onde estudou a Cabala e em 1663 em Tripoli, onde era físico do Osman Pasha.

A partir de 1668, dá-se a visibilidade pública de Cardozo, na defesa do messianismo de Sabbatai Zevi, já anunciado em 1665 por Nathan de Gaza. Visibilidade que aumenta com a famosa carta que escreveu “aos judeus de Esmirna”, em 1669.

A revolta de Tripoli dá-se entre 1672 e 1673, Miguel Cardozo passa então para Tunes, onde chega em 1674, permanecendo aí muito pouco tempo, visto que em 1675 já se encontra a caminho de Esmirna, depois de ter passado por Livorno. Teria vivido em Esmirna 5 anos, até 1680, seguindo depois para Constantinopla.

terça-feira, 16 de março de 2010

Menassés Ben Israel

     Menasseh foi baptizado com o nome de Manuel Dias Soeiro, filho de uma família de religião judaica portuguesa que foi obrigada a converter-se ao Cristianismo. Este judeu ilustre, que adoptaria a nome hebraico de Menasseh ben Israel, nasceu em 1604, na Madeira, tendo falecido em Middelburg, Países Baixos, em 20 de Novembro de 1657.
 Qualquer informação além desta correria o risco de se tornar incompleta, tal a importância deste intelectual, fundador da primeira impressora portuguesa em Amsterdão, líder religioso da comunidade judaica de Amsterdão e o fundador da comunidade judaica na Inglaterra. Os dados biográficos são abundantes, nomeadamente o círculo de amigos onde se movimentou. Desde o casamento com uma descendente do ilustre Isaac Abravanel, a amigo pessoal de Rembrandt, que lhe pintou um retrato; conhecido de Oliver Cromwell, é forçoso também acrescentar, amigo de um grupo restrito de portugueses lúcidos que então se movimentavam pelas cortes da Europa ao serviço de D. João IV e da afirmação da soberania portuguesa face a Castela. Destes destacam-se o Marquês de Nisa e o Pe António Vieira.
    Não foi propriamente objecto do romance "A corda de Judas" alicerçar questões de política económica, ambos os interlocutores teriam forçosamente falado sobre isso. Contudo, o objectivo último de Menassés e de Vieira teria sido forçosamente a grande questão religiosa. Essa é, na verdade, a centralidade da questão que ainda falta estudar mais aprofundadamente. A boa vontade de dois homens que procuravam de coração aberto uma proximidade entre religiões.
    A lição é actualíssima e é pena que estes exemplos continuem esquecidos ou apagados por ressentimentos que nada trazem de positivo à civilização humana. Este romance também petende ser uma justa homenagem a Menassés ben Israel, a Vieira e a todos aqueles que gostam de derrubar os muros.


Túmulo de Menasseh no cemitério israelita português de Beth Haim, nos arredores de Amsterdão

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Padre António Vieira


A presença do Pe António Vieira nesta saga é incontornável. No caso concreto da acção do romance "A Corda de Judas Iscariotes", nem tão pouco foi necessário recorrer por inteiro à ficção para situar o ilustre Jesuíta em movimento pelos diferentes locais da Europa e em diálogo com algumas das personagens históricas que abrilhantam este romance.
O autor deu-se inclusive ao trabalho, para não dizer ao luxo, de precisar temporalmente e geograficamente alguns dos encontros. Figuras de que voltaremos a falar, como Cosme III de Médicis e Menassés Ben Israel, fazem parte dos trabalhos biográfios sobre António Vieira. E os diálogos, no conjunto, foram reconstruídos a partir da documentação existente, nomeadamente das Cartas.
Até onde foi, ou até onde poderia chegar o visionarismo de Vieira e o seu espírito irrequieto em pretender agir e influenciar o decurso da História é a pergunta que se coloca nesta obra.

domingo, 14 de março de 2010

Judas Iscariotes


Talvez importe referir desde já que o autor deste romance é Católico Apostólico Romano. Limitar-me-ia a esta informação, pois é suficiente para situar todas as leituras que se possam fazer a partir daqui. O interesse pelo romance histórico e pela ficção são perfeitamente compatíveis com as convicções religiosas de cada um. Contudo, recuso-me, em nome de interesses comerciais, seguir uma linha como a de Dawn Brown e, a partir das fontes apócrifas, sugerir como verídicos factos que são pura ficção e não resistem à mais pequena prova científica. O verosímil é inimigo da mentira descarada.

Judas Iscariotes, apesar de dar o título a este romance, é uma referência essencialmente simbólica. Esta figura está estudada até à exaustão e as diferentes linhas de leitura são também elas conhecidas. Tudo se questionou, desde a sua actuação no grupo dos 12 até ao efectivo enforcamento. Se Judas era o contabilista do grupo e homem apegado ao dinheiro, se a corda ou o ramo onde se enforcou quebraram, ou ainda, segundo a tradição árabe, se Judas seria Simão de Cirene e foi crucificado no lugar de Cristo. Há lendas para todos os gostos e feitios que podem ainda alimentar muita ficção.

O que importa é ler esta personagem à luz do significado da traição. Em "A Corda de Judas Iscariotes", e este é um significado muito caro ao Judaísmo Sefardita, a traição é a fonte de todas as desgraças. Traição ao culto prestado ao Deus de Israel, como veremos depois explicado no livro de Samuel Usque.

sábado, 13 de março de 2010

José Nasi


José Nasi, como é referido no romance da "Corda de Judas", teve mais do que um nome e títulos, os mais conhecidos são os de José Micas, José Miquez, João Miguéz e de Duque de Naxos (1566-1579).
Penso, no entanto, que a fama lhe advém do facto de ser sobrinho de Gracia Nasi. A fazer fé nos nados biográficos, nasceu por volta de 1510, facto que anula, de certa forma, a diferença em relação a Gracia, ela tia e ele sobrinho.

O envolvimento deste judeu marrano português com os homens das finanças da época ficou também muito documentado, donde sonde sobressai Diogo Nasi e o famoso banqueiro Abraham Benveniste. Em qualquer dos casos, todos os documentos apontam para uma extrema habilidade na aproximação às pessoas influentes das diversas cortes.

Depois disso, o percurso de José acaba por ser também o da tia, com momentos de proximidade e de afastamento, esta é uma das intrigas que perpassa o romance de "A Senhora" e que vai muito para além dos factos históricos. De qualquer das formas, a presença de José Nasi é importante em momentos históricos do conhecimento geral, nomeadamente nos acontecimentos conturbados de Veneza, que levam à fuga dos judeus em 1550.

Das investigações realizadas neste romance, terá sido nesta derradeira fuga da Itália e a entrada no Oriente, com o apoio dado pelo sultão Suleimão, o magnífico, que a movimentação da família Nasi começa a demonstrar interesse pelas questões religiosas. A chegada a Istambul, em 1553, depois de quase dois anos de complicadas negociações para reaverem os bens, marca definitivamente a ruptura com o Cristianismo. Deixava assim de ser João Míguez e passava a ser Joseph Nasi, casando-se com a prima Reina, filha de Gracia.

É na aproximação à corte do Sultão que José joga um outro trunfo, na luta dos herdeiros ao trono de Suleimão, José toma o partido de Selim contra Baiezid, acabando por recolher redobradas honrarias. Entre cargos como os de guarda de honra do sultão, interessa para o entendimento da "Corda de Judas Iscariotes" a posse dos feudos da Palestina, donde sobressaía Tiberíades e outros lugares santos fundamentais para o desenvolvimentos do espiritualismo judaico e da cabala.

À História compete falar de Nasi enquanto governante, que parece não ter sido mau de todo, a fazer fé nas medidas administrativas que tomou enquanto Duque de Naxos. Hábil negociador, a ele recorreram importantes príncipes da cristandade, Maximiliano II, Guilherme d'Orange, Segismundo II da Polónia. Os últimos anos e os últimos dias de Nasi são os que mais interrogações levantam. A morte de a 2 de Agosto de 1579 é simultaneamente a morte do ducado de Naxos. A herança do Império Nasi, neste caso concreto, do império José Nasi acabava por ser efectivamente a "Corda de Judas Iscariotes".
A referência a José Nasi surge nas principais histórias do Judaísmo sefardita, sobressai na passagem pela corte de Istambul o livro de Norman Rosenblatt, Joseph Nasi, court favorite of Selmim II, University of Pennsylvania, 1957.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Gracia Nasi






Gracia Mendes, do apelido que herdou da família Mendes, ou Gracia Nasi (Nassi) (1510-1569), é uma das figuras centaris do Judaísmo marrano português, alargando-se porteriormente ao Juadaísmo Sefardita (Península Ibérica). Esta mulher, também conhecida por "A Senhora" e imortalizada no romance de Catherine Clément, projecta-se muito para além dos negócios e da filantropia que exerceu ao contribuir para que muitos portugueses de religião judaica conseguissem fugir de Portugal no século XVI. Gracia não salvou unicamente largas centenas senão milhares de cristãos-novos, ela mesma foi uma fugitiva de Lisboa para Antuérpia, de Antuérpia para Veneza e Ferrara, de terras da Península Itálica para Constantinopla. Falta estudar mais aprofundadamente o pensamento desta mulher e a influência intelectual que exerceu em certos grupos judaicos, particularmente entre os cabalistas e milenaristas.

Sem deixar de ser um Romance de ficção, "A Corda de Judas Iscariotes" vem apontar algumas pistas importantes para o estudo deste período.


São sugestivas algumas das gravuras, particularmente dos selos e medalhões, que atestam da importância e da beleza desta mulher que pretendi projectar na imagem de Ester, uma das personagens centrais deste romance.

Uma das principais referências bibliográficas de Gracia encontra-se no livro de Ceceil Roth, Dona Gracia of the House of Nasi.


quinta-feira, 11 de março de 2010

"A Senhora" de Catherine Clément

Há livros que marcam, e um deles, para mim, foi a "Senhora", duma outra senhora, a Catherine Clément. Há muitas formas de olhar o romance histórico, um género que pode tornar-se tanto mais valioso quanto estiver entre fronteira da História e da ficção. Catherine dá-lhe essa tonalidade. Por isso, sem deixar de ser romancista, ela é também uma contadora da História.

A Corda de Judas Iscariotes teve, por isso, o atrevimento de dar continuidade a um Romance inacabado com a morte de José e de Gracia Nasi, trazendo a influência destas duas figuras do judaísmo marrano para a actualidade.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Rebordelo






Rebordelo é a aldeia donde parte toda a intriga deste romance. Vale a pena conhecer Rebordelo, muito mais ainda depois de ler a Corda de Judas. Ficam entretanto algumas imagens desta aldeia do norte de Portugal, encravada entre Chaves, Vinhais.


As manifestações religiosas são várias, vê-se facilmente numa visita ao site donde foram retiradas esta imagens. http://www.vinhais.com.pt/paginas/rebordelo/a-aldeia.php










Importante reparar na pintura atrás.


terça-feira, 9 de março de 2010

A Corda de Judas Iscariotes

Inquisição de Coimbra, ano da graça de 1658, Branca Mendes tinha completado há poucos dias 33 anos quando a prenderam. O cenário era sempre muito idêntico, a filha mais velha, de tenros quatro anos, chorava agarrada à saia da mãe, enquanto Branca segurava ao colo a criança mais nova, um menino de fartos cabelos negros a quem, em segredo, queriam pôr o nome de Sansão. Os beleguins arrancaram-lhe as crianças à força com a ferocidade dos brutos que não respeitam a inocência das crianças.
Um mês depois, a 11 de Novembro, era entregue aos cuidados da Inquisição de Coimbra onde respondia na primeira chamada à mesa, sendo interrogada pelo inquisidor Frei João de Vasconcelos, um frade dominicano, claríssimo em sangue e mais ainda em virtude. Como diziam os regimentos, este frade deveria ter um semblante que era espelho do espírito, cópia do génio, imagem do coração, traslado da alma e sobrescrito da natureza. Ou, como diria Branca Neves, um rosto comprido proporcionado ao corpo; olhos grandes e tão severos que eram uma repreensão muda dos que se erguiam a vê-los; as sobrancelhas, como a cabeça, bem povoadas de cabelo, mas barba escassa; o nariz seria avultado na proporção do rosto e boca retorcida; a cor da face era desmaiada e os beiços nem grossos nem delgados. Os seus pares diziam que tinha um ar majestoso e venerável, mas o tom da pele dava-lhe um aspecto pálido, reflectido numa natureza debilitada e achacada, por tudo o que se associava à austeridade e ao sofrimento. Um homem que é espelho da dor não quer dizer que seja sensível à dor dos outros, e Branca Mendes temia-o.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mudar o Título

Por sugestão do meu editor, pessoa sempre muito atenta, e por opinião dos primeiros leitores do manuscrito e de alguns colegas. Entendeu-se por bem alterar o título deste romance. Aliás, nem chega a ser uma alteração, é apenas uma troca. Passaria a ser "A Corda de Judas Isacriotes ( O Quinto Império do Mundo)" Aceitam-se comentários.

sábado, 6 de março de 2010

"O Quinto Império do Mundo (A corda de Judas Iscariotes)"

Já procedi à correcção das provas do romance histórico "O Quinto Império do Mundo (A corda de Judas Iscariotes)"
Depois de no dia 17 de Março ter contactado telefonicamente o grupo editorial Leya, manifestando-lhes a decisão de cancelar esta publicação, de imediato enviei o manuscrito para uma outra editora. No Sábado, dia 20, numa simples conversa entre homens, iniciámos uma corrida contra o tempo para que este romace saísse o mais rapidamente possível.
Acrescentou-se ao título "A corda de Judas". Não se trata de um comentário a quem se possa imaginar. Na verdade, a corda de Judas é um dos elementos mais simbólicos do enredo desta obra.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Carta aberta à Leya


Ex.mos(as) Senhores(as)



Concorri ao 1º Prémio Leya de 2008 com o pseudónimo de Sebastião José, com o romance intitulado “O Quinto Império do Mundo”. A obra foi devidamente recepcionada e colocada a concurso, conforme a informação prestada por email com data de 1 de Outubro de 2008.
Ainda do dia 14 de Outubro, após saber o nome do vencedor, enderecei um email à Leya, colocando uma questão muito concreta. Tendo o meu romance como uma das personagens o Pe António Vieira, era do meu interesse publicá-lo durante as comemorações do ano Vieirino, pelo que interpelava a editora acerca do eventual interesse na respectiva publicação.
No dia 15 de Outubro, à tarde, recebi um telefonema da Leya, informando que o meu romance tinha sido um dos oito finalistas. Facto que me deixou muito satisfeito, como seria de esperar, tendo em conta a dimensão deste concurso e as obras envolvidas. Era ainda informado de que a editora tinha interesse nesta publicação e de que seria depois contactado para as respectivas formalidades. Neste telefonema, voltei reforçar o meu empenho na publicação dentro do ano Vieirino. Com efeito, o romance andava a ser amadurecido com essa finalidade, e este concurso tinha apressado a decisão de o escrever.
Foi com alguma desilusão que vi passar os meses sem que tivesse recebido qualquer contacto para além deste telefonema. Sensivelmente em meados de Abril, contactei novamente a Leya, na pessoa da Editora Maria Dulce Reis e fui então informado de que o meu livro teria sido entregue ao cuidado da Editora Maria da Piedade Ferreira, para ser publicado pela editora Oceanos.
Contactei a Dra Maria da Piedade, que confirmou esta informação, mostrando inclusive interesse num contacto pessoal para acertar pormenores em relação ao texto. Em 9 de Novembro, enderecei por escrito um pedido de informação formal acerca da publicação em causa. Acontece, contudo, que até ao momento, nada me foi explicado de forma clara e concreta, facto que me levou a solicitar telefonicamente, no dia 17 de Fevereiro, a minha intenção de desistir desta publicação.
Analisando agora os acontecimentos, ocorrido cerca de um ano e meio, permito-me retirar conclusões acerca da postura do grupo editorial em relação ao Prémio Leya. Em primeiro lugar, a Editora correu um risco louvável de avançar com um prémio baseado numa prova cega, mas contrapõe-lhe uma reserva mental que em nada dignifica um grupo editorial desta dimensão. Efectivamente, só a minha boa-fé em relação a uma empresa desta importância permitiu que não tivesse desconfiado, desde o início, do incómodo no envio do contrato para a publicação. Se o “Quinto Império do Mundo” despertou o interesse enquanto foi lido sob pseudónimo; o mesmo não sucedeu quando foi aberto o anonimato.
Se observarmos alguns dos sinais que o Prémio Leya tem demonstrado, verificamos que se assiste a uma sombra sobre quem são os seus finalistas. A justificação parece-me simples, por um lado esconde alguns dos nomes consagrados das editoras do grupo, que podem não querer que as suas obras sejam vistas como rejeitadas para o primeiro prémio. Assim se entende a rápida publicação de uma das obras finalistas de autor nacional, onde não é referido este facto; por outro lado, permite eliminar, pelo cansaço, o autor que, pelas mais variadas razões, não tem interesse comercial.
Em segundo lugar, permite contradizer um dos princípios que este grupo editorial defende ao instituir este prémio: "apoiar os autores que escrevem em Português e contribuir para a sua maior difusão na área geográfica da língua portuguesa e em todo o mundo”. O princípio também é aparentemente louvável, mas até à data ainda não apresentou qualquer obra de escritor nacional. Por outras palavras, pode o Prémio Leya servir aos escritores brasileiros e moçambicanos, da produção nacional ainda não se viu nada, ou por manifesta falta de qualidade dos concorrentes, por indiferença dos escritores nacionais por este prémio, ou então pelo simples facto de que possui como única intenção a publicidade e os fins comerciais.
Por fim, uma terceira conclusão, prende-se com a arrogância absoluta de um grupo editorial sobre um concorrente que dá os primeiros passos na escrita. Um entre tantos que enchem as editoras de manuscritos e tentou, através de uma prova cega, uma avaliação que julgava ser a mais justa, tendo sido um dos oito seleccionados entre 448 obras a concurso. Teve como resposta um ano e meio de indiferença pelo homem, pelo livro e pelo assunto. Recebeu ainda o tratamento que considera inqualificável em relação a qualquer cidadão que tem o currículo que merece a maior das respeitabilidades: o cumprimento de todos os seus direitos e deveres. Acrescentaria, Homem de Palavra e, por isso mesmo, implacável na forma como a vê tratada.

Carlos Maduro