Acho as recentes críticas ao rei Juan Carlos de
Espanha muito injustas. Na verdade, só uma ignorância muito grande nestas
coisas de sangue a azul é que não permite entender que o gosto pela caça
corre-lhes nas veias.
Não conheço os reis todos, longe disso, mas
ocorre-me vagamente que todos eles, mais aqui, ou mais ali, todos tinham por
preceito dar a sua caçada e a sua montadela. E diga-se ainda, em abono da
verdade, que os reis e demais candidatos também nunca foram de grandes
cerimónias quando se trata da caça. A nossa História, naquela parte que melhor
conheço, está recheada de referências às caçadas dos nossos reis na famosa
corte de Salvaterra, lá para os lados de Santarém. Ele eram tordos e
codornizes, coelhos e perdizes, veados e javalis, e outras bicharadas munidas
ou não de cornos. E não duvido que os nossos monarcas, se acaso também tivessem
pisado as terras africanas, não pensariam duas vezes antes de mandar um tirinho na primeira tromba que lhes aparecesse pela frente.
Concluindo, e sendo a monarquia uma instituição
que muito procura conservar as tradições que os nossos antepassados nos
legaram, é como querer um jardim sem flores exigir que os reis, ou eventuais
candidatos a reis, fiquem proibidos de dar ao gatilho. Muito sinceramente, acho
de devemos deixar os indivíduos estoirar à vontade, com um bocadinho de
compreensão de ambas as partes, até que bem podiam estoirar para o ar e com
pólvora seca.
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