Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



terça-feira, 21 de junho de 2011

Somos menos, felizmente

      Li recentemente, na revista Tempo Livre , uma das muitas crónicas que o senhor Fernando Dacosta costuma escrever. Quando digo costuma, quero dizer que não é a primeira vez e, portanto, esta é uma resposta isolada e nada tem a ver com a pessoa que a escreve, cada um é livre de pensar o que quer, mas com o autor pontual da crónica e do veículo destas ideias, no caso uma revista pública da responsabilidade do INATEL.

     O artigo, tenho de confessá-lo, é perigoso, diria mesmo de terrorismo de estado. Este senhor, um ancião respeitável, no momento da vida em que devia olhar para o mundo que o rodeia como um lugar de vida e de felicidade, atrever-me-ia a dizer como um tesouro sempre mais enriquecido para legar às gerações futuras, não… egoisticamente deseja que cada vez seja menor o número daqueles que um dia possam usufruir de um dom tão simples como o da vida.

      Chega a parecer monstruoso, e pergunto como é possível que seja publicado um texto que afirma, passo a citar: “Vamos ser, em 2100, apenas 6,7 milhões de portugueses (a mesma população de 1920), catastrofizam demógrafos. E daí? Quererão mais jovens para somar aos que deambulam sem ocupação, sem saída, sem futuro? mais jovens a viver dos pais e avós (que no final da vida têm de subtrair ás cada vez mais subtraídas pensões o seu sustento?); mais jovens para largar o mercado dos prostitutos, dos delinquentes, dos drogados, dos excluídos? Não lhes chegam as centenas de crianças a dormir nas ruas de Lisboa? Nãos lhes bastam os milhares de adolescentes a procurar, em vão, o primeiro emprego?”

     A lista de aberrações, pois não conheço outro termo, é tal que só podemos ficar perplexos, praticamente sem palavras, tal a distorção deste raciocínio. Como é possível que uma instituição como o INATEL não tenha uma palavrinha de contenção para afirmações destas que só podem ter desculpa na senilidade, tal o número das imprecisões, desde gralhas de ortografia a afirmações que só uma intenção ficcional poderia tolerar, mas não acho que assim seja. Este pensamento é dum egoísmo atroz e, perante uma visão do mundo tão radical, só me ocorre uma resposta com a mesma radicalidade. Para o senhor Fernando Dacosta, é preferível não nascer a ser prostituto, drogado ou delinquente; para o senhor Fernando Dacosta é preferível não nascer a não ter um futuro na vida ou viver na dependência dos pais e dos avós; para o senhor Fernando da Costa é preferível ser um aborto a ser uma criança a dormir nas ruas de Lisboa; não respondo à última premissa, pois o trabalho dos adolescentes ainda é considerado trabalho infantil e nem imagina aquilo que está a escrever. Este senhor, pode dizer-se, tem ódio à vida. Parte do princípio de que, todos aqueles que não são prostitutos, têm emprego, não são delinquentes, são felizes e o mundo, através deles, fica melhor. Não, meu caro amigo, fica muito pior, e ainda muito pior com pessoas que pensam como o senhor. Não queria ser inconveniente, mas tenho que lhe dizer que o mundo não precisa nada do seu pensamento, pois nunca me atreveria a dizer que não precisa do senhor para nada.

     Eu sei donde vem esta forma de pensar, o último parágrafo descobre a máscara: “Semelhantes posturas levam a apontar como causa dos problemas o que são - despenalização do aborto, uso do preservativo, legalização do divórcio e do casamento homossexual-. consequência deles. As conquistas que representam não constituem ataques à família tradicional, mas mudanças ao seu paradigma, isto é, possibilidades para cada um escolher modelos de afectuosidade mais ajustados a si - o que significa um acentuado enriquecimento civilizacional”. Só não imagina onde quer chegar quem é burro. Mas ainda bem que os senhores, de vez em quando, deixam fugir a boca para a verdade e são as verdades que precisam de ouvir. O seu avanço civilizacional é o “Não à Vida Humana”, é assim que tem que ser dito com as letras todas. E isto em nome duns direitos que escolheram como bandeira para mostrar que existem, caso contrário, não teriam nada que dizer ao mundo que não estivesse já dito há muitos milhares de anos. Esse é o vosso problema. Termino só com um pequeno pormenor que me dá todo o direito de dizer o que digo. Sabe, senhor Fernando Dacosta, é com textos como o seu que eu cada vez mais tenho orgulho na Igreja a que pertenço, pois tenho a certeza que em lado algum alguém se atreveria a dizer que o mundo ficará pior se continuarem a nascer homossexuais, abortadeiras, prostitutas e pedófilos.

Tempo Livre, Junho 2011, nº 227, p. 82

Sem comentários:

Enviar um comentário