Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Freirático

      Querem conhecer a quinta-essência do platonismo no amor português do século XVIII? Aí o têm. É o freirático.

       Foi o século XVII que o inventou; foi no tempo de D. João V que ele floresceu. Era um tipo. O amor, como as folhinhas, tem os seus mártires: foram os «devotos de freiras» que se encarregaram de escrever, de 1653 a 1744, datas extremas dos alvarás que os perseguiram, as páginas mais interessantes desse martiriológio. Nunca houve, em amor, ninguém tão escarnecido, tão explorado, e tão pouco exigente como o freirático. Um olhar do coro, uma palavra na grade, um suspiro ao ralo: nada mais desejava, nada mais pedia. Arruinava-se em jóias, em presépios, em capelas para os anjos, em capas para as irmandades; enfiava presentes às «comadres», cruzados às serventes e aos monazilhos; esvaziava a bolsa, vendia a sege, despia a camisa, caía nas mãos dos quadrilheiros e dos meirinhos, do Ordinário e da Inquisição, só pelo prazer ingénuo, pelo inofensivo prazer de poder confessar a um amigo, entre dois risinhos secos e duas cortesias dançadas, que, como o marquês de Gouveia, como o conde de Tarouca, como o morgado da Oliveira, também tinha a sua freira na Rosa, nas Mónicas, no Salvador ou em Sant'Ana.

Citado de http://www.arqnet.pt/amoremportugal/freiratico.html

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