Este Blogue não tem como finalidade apresentar um trabalho científico sobre o Judaísmo, a cabala ou o Quinto Império. Destina-se unicamente a servir de suporte ao entendimento generalizado das principais figuras deste romance e aos locais onde o mesmo se desenvolve.



sábado, 30 de outubro de 2010

Outeiro Poético

      Coimbra: Outeiro Poético recriado sábado no Convento de Sant'ana
       Coimbra, 29 Jan (Lusa) -- Os recitais que ao longo dos séculos poetas e músicos executavam junto aos conventos, a exaltar a beleza das noviças e para saborear as iguarias das monjas, vão ser recriados sábado no âmbito da II Mostra de Doçaria Conventual e Regional de Coimbra.
      Tradicionalmente à noite e junto às portarias dos conventos femininos, jovens poetas, lentes e estudantes, juntavam-se em freiráticos e aguardavam que uma frase lançada pelas homenageadas servisse de mote para um soneto, ou uma sucessão de versos rimados.
      À chegada dos freiráticos acendiam-se velas nos mosteiros e, com os vultos das noviças e freiras por trás das grades, entabulava-se alguma conversa, e assim se dava início ao que era designado de Outeiro Poético.
      Os outeiros atraíam lentes, estudantes e fidalgos vindos, até, de Lisboa para exibir a arte do galanteio. Nos conventos femininos de Sant'ana, Santa Clara, Celas, Sendelgas, ou Tentúgal procuravam amores, suspiros, poesia e doces, refere a investigadora Dina de Sousa, acrescentando que são conhecidas referências a estas manifestações desde o século XVII ao XIX, altura da extinção das ordens monásticas.
      Esta tradição ligou, durante séculos, a cidade, a Universidade e a poesia às iguarias dos conventos, terminando após a extinção das ordens religiosas. Mais tarde utilizou-se a designação de Outeiros Cívicos, realizações de carácter político, para afirmação do poder liberal, recorda a investigadora, do Departamento de Cultura da Câmara de Coimbra.
      Escritores que passaram por Coimbra nos tempos de estudante referem-se a estas manifestações nas suas obras, como é o caso de Almeida Garrett que escrevia: "mui gulloso doce as madres nos davam".
      Cada convento oferecia as suas especialidades doceiras: as arrufadas, o sensual manjar branco, os pasteis de Tentúgal, a par de compotas e covilhetes de marmelada que fizeram as delícias de Francisco da Silveira Malhão, Antero de Quental, João de Deus, Almeida Garrett, Trindade Coelho ou António Castilho.
    Tais realizações literárias e amorosas resvalavam, às vezes, para uma vertente mais ousada e erótica, o que é notório em inúmeros poemas que os freiráticos deixaram, e que levaram ao surgimento de algumas leis destinadas a controlar o uso de expressões menos adequadas.
     António Nobre no seu poema "Carta para Manuel" deixa um testemunho de que as residentes nos mosteiros não estavam excluídas da arte do galanteio e de serem eleitas com destinatárias do amor sensual.
      Conta que todos os meses ia de Coimbra a Tentúgal para visitar a sua "linda freira" no convento, da qual aguardava um bilhete, que nunca chegava, no interior de um "pastellinho".
      No sábado, pelas 16:00, no antigo Convento de Sant'ana - hoje quartel da Brigada de Intervenção - será recriado um Outeiro, com o envolvimento do Grupo de Fados Velha Cabra e da Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal.
     A Mostra, numa iniciativa da Câmara Municipal integrada no processo de certificação de três especialidades conventuais, decorre sábado e domingo naquele antigo convento, com a participação de dezenas de doceiros e de grupos folclóricos

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